Germán Cohen: "O Onda Vaga sempre valorizou mais o componente humano do que as questões técnicas"

Germán Cohen: "O Onda Vaga sempre valorizou mais o componente humano do que as questões técnicas"

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Com Gérman Cohen (ao centro), nos vocais, Onda Vaga se apresenta neste sábado em Porto Alegre Com Gérman Cohen (ao centro), nos vocais, Onda Vaga se apresenta neste sábado em Porto Alegre


Mesclando de forma criativa vários gêneros como rumba, cumbia, reggae, folk e tango, o Onda Vaga já se consagrou como um dos principais nomes do cenário indie atual na América Latina. Tudo começou em 2007, quando argentinos Nacho Rodríguez, Marcelo Blanco, Marcos Orellana e Tomás Gaggero formaram o grupo numa viagem ao Uruguai. A química  foi instantânea e, em pouco tempo, começaram a dar forma ao seu som bastante característico. No mesmo ano, a entrada de Germán Cohen nos vocais e trombone foi determinante para que a banda seguisse o seu próprio rumo, longe dos caminhos usuais da indústria fonográfica. Desde então, foram muitos quilômetros viajados pelo mundo. A primeira passagem pelo Brasil aconteceu em 2015, durante o festival El Mapa de Todos, em Porto Alegre. Em 2016, o grupo fez show na Capital no bar Opinião; neste sábado,  a banda sobe novamente ao palco do Opinião, a partir das 20h30min, desta vez para mostrar o repertório praticamente inédito de “OV IV”, seu mais recente trabalho de estúdio, além de faixas de seus outros trabalhos: “Fuerte y Caliente”, “Espíritu Selvaje” e “Magma Elemental”. Os ingressos custam R$ 80 e podem ser adquiridos pelo site. Em entrevista ao Correio do Povo, Germán Cohen analisa a trajetória do Onda Vaga, a relação do grupo com a América Latina e com o Brasil.

Correio do povo: Este ano, o Onda Vaga celebra dez anos de carreira musical. Que análise tu fazes dessa trajetória?
Germán Cohen: Embora sejamos todos argentinos, a banda surgiu no Uruguai, mais especificamente em Cabo Polonio, em 2007. Apesar de todos os desafios que uma banda iniciante enfrenta, principalmente a questão financeira e de conseguir fazer com que as pessoas nos escutem, estamos mantendo a mesma formação por todo este tempo. Começamos de maneira totalmente acústica, já que lá estávamos em um lugar sem energia elétrica. Esta necessidade acabou se tornando um estilo e o grupo, de alguma maneira, sempre valorizou mais o componente humano e a amizade do que as questões mais técnicas ou conceituais da música. Isto é o que nos mantém unidos e criando.

CP: De lá pra cá, muitas coisas mudaram na indústria, como a criação do Spotify e outros serviços de música. Como essas tecnologias têm influenciado o trabalho de vocês?
Cohen: Quando surgimos, não existia o Spotify e todas as outras redes sociais ainda eram bem recentes. Estamos vivendo um momento hoje em que conseguimos atingir mais pessoas, independente do lugar em que moram, graças à Internet. Por isto, vemos com bons olhos a viralização da música e da arte através do streaming. Tudo tem sido mais rápido do que na época que dependíamos do boca a boca para chegar até o nosso público.

CP: Vocês conseguem misturar ritmos diferentes como rumba, cumbia, reggae, folk e tango com elementos de punk e rock que, à primeira vista, parecem completamente opostos. Que inspirações levaram a isso e como conseguem equilibrar tudo isso nessa sonoridade única?
Cohen: A verdade é que todos nós escutamos diferente gêneros musicais. Então, acho que que esta mistura acaba aparecendo de forma bastante natural, seria até meio impossível que não houvesse este encontro de referências. No começo do Onda Vaga, tivemos esta junção de ideias de forma muito orgânica, o que permanece até hoje. A gente nunca buscou uma fórmula para a nossa música, apenas encontramos um caminho que agradou a todos nós e tem funcionado muitíssimo bem de forma coletiva.

CP: "OV IV" apresenta uma certa evolução nas letras que transmitem mensagens um pouco mais profundas sem perder a essência que venera a liberdade e o hedonismo. Esse maturação foi um processo natural?
Cohen:  
Sim, foi um processo natural, mas não sei se estou tão seguro em afirmar que o "OV IV" apresenta letras mais profundas. Acho que podemos dizer que a forma que chegamos ao resultado final de todas estas composições deste álbum foi um pouco distinto se comparado com os trabalhos anteriores, já que estamos mais experientes e nos sentimos mais entrosados coletivamente. O grande diferencial é que agora também temos a tranquilidade para trabalhar de forma criativa sozinhos. São dez anos de banda e nossas letras seguem falando sobre nós mesmos.

CP: A banda já se expandiu em todo o mundo, viajando para vários lugares fora do continente. Como o grupo e a música latina foram aceitos em países culturalmente distantes?
Cohen:
Viajamos muito! Em um primeiro momento, as turnês sempre nos interessaram bastante, porque entendemos que é na estrada a grande oportunidade para desenvolvermos a nossa potencialidade musical. Encontrar outras pessoas, estar diante de realidades diferentes nos ajudou a crescer artisticamente também. É claro que enfrentamos algumas dificuldades, principalmente na Alemanha e no Japão por causa do idioma, mas a música acaba sendo uma ponte entre essas culturas. Foram experiências incríveis nestes lugares e tivemos uma resposta sempre magnífica do público. Cada lugar absorveu o Onda Vaga de um jeito e isto foi muito legal de ver e de compreender durante a turnê.

CP: Vivemos um momento difícil na América Latina. Como essa turbulência política e social afeta o trabalho do grupo?
Cohen: Vivemos um momento difícil em todo o mundo. Estamos todos loucos! Na América Latina, nunca foi fácil e agora está cada vez mais complicado. Fazemos parte de um todo e com certeza estamos inseridos dentro da realidade cotidiana destes países. Acho que até não há como desassociar o Onda Vaga disto. Os problemas sociais nos influenciam e as dificuldades financeiras afetam diretamente a banda, pois se tornou bem mais caro fazer shows. No entanto, não nos preocupamos tanto com isto porque, como um grupo independente, sempre enfrentamos esta dificuldade e na Argentina estamos acostumados a tentar encontrar um pouco de alegria e de diversão no meio de tanta coisa ruim.

CP: A primeira apresentação de vocês em Porto Alegre foi no El Mapa de Todos. Qual é a importância deste festival para a cena musical independente regional?
Cohen:
O El Mapa de Todos é conceitualmente muito importante para que a gente mantenha a cena local da América Latina viva. Para nós, foi um grande mérito fazer parte dele, pois conseguimos chegar ao Brasil com bastante força. Sempre vimos o país de vocês com um grande potencial para nós e nos últimos anos estamos crescendo aos poucos por aí, cada vez voltando ao Brasil com mais shows agendados.

CP: O que vocês esperam do show em Porto Alegre neste sábado?
Cohen: Temos grandes expectativas! Porto Alegre tem nos recebido tão bem que acabamos criando aí a nossa base. Para uma banda da Argentina, é sempre difícil chegar ao público brasileiro e acho que conseguimos fazer isto de 2015 para cá. Estamos com muita vontade de retribuir este carinho, vai ser um grande festa! Nas duas vezes que tocamos em Porto Alegre, o público invadiu o palco e esperamos que a plateia deste sábado seja assim tão efusiva novamente.

* Por Eric Raupp

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