Internet das Coisas na Saúde

Internet das Coisas na Saúde

Por Lucas Eliel

Lucas Eliel

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A Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) irá revolucionar o setor da Saúde, defende o professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Jéferson Nobre. A tecnologia, aliada ao sinal 5G, promete trazer facilidades em exames médicos e mudará a forma como especialistas fazem o acompanhamento dos pacientes. O pesquisador, que é membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), possui doutorado em Computação pela universidade gaúcha e tem ênfase na pesquisa de redes de computadores e sistemas distribuídos, conversou sobre o assunto com o Correio do Povo.

Como podemos definir a Internet das Coisas? 

Nós normalmente a definimos como pequenos objetos inteligentes ou objetos inteligentes em geral. Estes equipamentos possuem softwares próprios e estão interligados por uma rede que é semelhante à Internet. É importante ressaltar que o 5G é diferente da Internet das Coisas, mas as tecnologias têm a capacidade de aumentar seus impactos quando trabalham em conjunto. 

Que avanços a Internet das Coisas deve trazer para o setor da Saúde? 

Um exemplo que gosto de citar é aquele exame chamado holter, hoje realizado com um equipamento que fica com o usuário 24 horas. Ele vai coletando dados e depois o paciente deve levá-lo ao serviço de saúde para as informações serem descarregadas. É um dispositivo relativamente grande e um pouco incômodo. No contexto de Internet das Coisas, poderia haver somente um sensor que ficasse com a pessoa o tempo que fosse necessário, 24 horas ou menos, e esses dados poderiam ser mandados em tempo real para um médico ou médica. Se alguma anormalidade mais séria fosse observada, o(a) especialista nem precisaria esperar o final do exame e já poderia solicitar que a pessoa fosse até o hospital. 

O potencial da Internet das Coisas em Saúde é muito grande. A gente fala com frequência também, por exemplo, sobre monitoramento de idosos e alguns outros usos em relação a exames e bombas de insulina inteligentes. Tem vários tipos de serviços que hoje existem e que podem evoluir. Há também a questão da Internet Tátil, uma tecnologia a meu ver revolucionária. Ela é uma Internet que transmite informações por meio do toque, podendo ser utilizada em serviços hoje ainda não disponíveis. Com este advento tecnológico, exames feitos presencialmente têm a expectativa de poderem ser feitos à distância.

Há estudos mencionando tecnologias no armazenamento de vacinas? Com a pandemia de Covid-19, observamos com mais clareza algumas limitações nos serviços envolvendo os imunizantes, pois as doses não podem esperar muito tempo para a aplicação, senão perdem a validade. 

Toda a questão, não só de vacinas, mas inclusive de outros fármacos, têm impacto com a utilização de Internet das Coisas. Existe a ideia de etiquetas inteligentes que podem ser monitoradas de uma forma mais precisa. Há uma tecnologia disponível, há alguns anos, a RFID (Identificação por Radiofrequência, na tradução para o português). Ela permite você fazer o controle mais preciso de alguns armazenamentos, se atentando a variáveis como temperatura e umidade. Tem vacinas, por exemplo, que têm a vida útil dependente da temperatura. Em um contexto de IoT seria possível controlar isso de forma melhor e garantir validade maior para os imunizantes.

Quais são os cuidados necessários para a elaboração dos equipamentos inteligentes para a Saúde?

Essa é umas principais questões hoje debatidas na Internet das Coisas para a Saúde. Os objetos inteligentes têm muitas utilizações em campo, mas eles se diferenciam em alguns casos em relação à qualidade na comparação com equipamentos utilizados dentro dos hospitais ou clínicas. Existe a discussão de demonstrar que esses dados inteligentes têm compatibilidade com as informações dos equipamentos mais tradicionais. Diversos estudos clínicos têm demonstrado que é possível ter resultados compatíveis. Temos, contudo, dispositivos que ainda não conseguem fazer isso. As smartbands ou smartwatches podem ser utilizadas como exemplo. Eles monitoram a frequência cardíaca, mas não possuem a qualidade de um frequencímetro de nível médico, ou seja, aqui há uma diferença significativa.

Baseado nisso, podemos projetar que muitos destes equipamentos inteligentes hoje podem ser utilizados como auxílio para os especialistas e futuramente poderão ser usados de forma mais séria? 

Exatamente. O que tem acontecido com frequência agora é uma abordagem de atenção inicial. Hoje em alguns smartwatches é possível observar alguns casos arritmias. Em versões mais avançadas, eles até avisam se há alguma coisa de anormal. A partir dessa primeira informação, dá para o usuário buscar um serviço de saúde para um exame mais preciso, validando ou não o primeiro dado obtido pelo dispositivo. 

Ao se fazer isso, já há um impacto muito grande. Uma das grandes dificuldades em relação à aplicação em massa de serviços de saúde é exatamente essa primeira detecção, de que é necessário fazer alguma coisa. Além da questão de impacto social, os grandes fabricantes do ramo da Saúde perceberam que ao adotar softwares e tecnologias que permitam ao usuário perceber problemas de saúde, eles também trazem valor para a marca e para aquele equipamento em específico, ou seja, também há interesse comercial.

O tempo é fator importante, mas obviamente acredito que não seja possível bater o martelo e dizer quando todos os avanços da Internet das Coisas chegarão ao público. No entanto, dá para fazer uma estimativa das tecnologias disponíveis levando em consideração cinco, dez anos? 

Realmente, não temos como definir o tempo exatamente. O que tem aparecido muito agora são avanços muito incrementais. A questão da pressão arterial, por exemplo, era um exame utilizado com equipamentos maiores, mais complicados. E agora, novas versões de smartwatches já têm tecnologias para analisar a pressão. É uma pequena modificação, mas tem uma infinidade de questões cardiovasculares relacionadas à pressão arterial, ou seja, um pequeno avanço de hardware e software traz esse grande impacto. Esta tecnologia vai aparecendo aos poucos nos dispositivos à medida que as pessoas vão atualizando ou comprando novos dispositivos. 

Entendo que estamos em um momento no qual pequenos avanços vão acontecendo e temos a chance, em um período não tão longo, de dez anos, de termos algo mais revolucionário. Digo também que, certamente, nos próximos cinco anos, o cenário em relação a uso dos dispositivos em saúde vai ser completamente diferente. Neste período, nem vamos estar falando mais tanto em 5G, pois o assunto vai ser o 6G ou até mesmo o 7G, que deverão ser redes ainda mais avançadas, com transmissão de dados maiores. 

Tem várias tecnologias que vão evoluir, aliadas ao interesse econômico muito grande em saúde. Por outro lado, é importante colocar que o ambiente hospitalar é muito caro. Qualquer coisa feita nele tem um custo muito grande e isso não impacta somente nos usuários, mas também nos operadores de serviços de saúde. As empresas também têm interesse em realizar exames fora do hospital para conseguir diminuir as despesas envolvendo exames. Isto sem contar aspectos de monitoramento. Talvez, para um plano de saúde, seja interessante oferecer para o usuário serviços neste sentido, em que ele prescindir de determinado exame porque sabe, com base nas informações do dispositivo, qual caminho médico ele deve seguir. Já nos próximos dois anos veremos avanços incrementais importantes, com o avanço da cobertura do 5G.

 

 

 


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