João Gabbardo: "Não há comprovação de que vacinação fora do grupo de risco traga benefícios"

João Gabbardo: "Não há comprovação de que vacinação fora do grupo de risco traga benefícios"

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Gabbardo destacou orientação da OMS. Foto: Fabiano do Amaral / CP Memória Gabbardo destacou orientação da Organização Mundial de Saúde. Foto: Fabiano do Amaral / CP Memória


Há pouco menos de duas semanas do início da campanha de vacinação contra a Gripe A (H1N1), o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo dos Reis, tem encarado o desafio de garantir a conscientização sobre a importância da imunização dos grupos de riscos. Preocupado com um possível pânico na população e um corre-corre às clínicas particulares de vacinas, como já tem sido registrado, ele esclarece dúvidas e pede que a população, independente da sua categoria, adote medidas de prevenção à gripe, como lavar as mãos. A seguir, trechos da entrevista exclusiva concedida pelo secretário na manhã de ontem no Palácio Piratini.

Correio do Povo: Secretário, quem deve ser vacinado contra a gripe e por quê?
João Gabbardo: A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam a vacinação aos grupos considerados de maior vulnerabilidade. Isso significa que são aquelas pessoas que têm maiores chances de desenvolver a doença de maneira mais grave ou risco de transmissão. São elas: crianças de seis meses até menores de cinco anos, idosos, gestantes, puérperas, pessoas com comorbidades, profissionais de saúde, indígenas e pessoas privadas de liberdade.

CP: Há especialistas que recomendam a vacinação de toda a população. O senhor acha necessário?
João Gabbardo: Não há comprovação científica de que a vacinação de pessoas fora do grupo de risco - como adultos saudáveis - traga benefícios concretos ou que reduza os períodos de afastamento de trabalho, por exemplo. Cochrane (site de estudos científicos) publicou uma meta-análise reunindo mais de 90 trabalhos científicos do mundo inteiro sobre a aplicação da vacina contra gripe e identificou que não há benefícios consideráveis no caso de adultos saudáveis. Como gestor de saúde pública, a nossa ação deve ser feita com base em estudos científicos e com resultados de custo/efetividade caso contrário só estaremos usando recursos sem benefício algum, pois no grupo de adultos saudáveis não diminui os sintomas, não reduz internação hospitalar e óbitos.

CP: Qual é a diferença da vacina contra a gripe com as demais?
João Gabbardo: Essa vacinação não busca fazer um bloqueio da doença. Esse é o pensamento equivocado. A vacina da gripe busca reduzir os riscos da população que é mais vulnerável à doença, reduzir número de internações e de óbitos. E como há mutação do vírus, é necessário se imunizar todos os anos.

CP: Há quem defenda a imunização daquelas pessoas que têm ou estão em contato permanente com outras pessoas, como quem atende ao público. Essas pessoas não deveriam ser imunizadas?
João Gabbardo: Há uma confusão neste debate. Um cobrador de ônibus tem mais chances de ficar gripada do que outros profissionais. Isso porque eles têm mais contato com outras pessoas. Se ele tiver a doença, ele vai ficar doente por dois ou três dias e depois vai se recuperar. Isso é diferente de uma pessoa que está no grupo de risco. Essa pessoa poderá pegar a doença de forma mais grave, poderá necessitar de internação hospitalar e alguns podem até chegar a óbito.

CP: E o uso de Tamiflu?
João Gabbardo: As pessoas que apresentarem sintomas de gripe devem procurar atendimento médico. O médico irá avaliar se o caso do paciente necessita do remédio. Há estudos também que mostram que não há benefício em adultos saudáveis que tomaram o remédio na vigência da gripe.

CP: O RS antecipa alguns dias o início da campanha de vacinação contra a gripe. As doses do Ministério da Saúde deverão chegar até sexta-feira dessa semana ao Estado. Porque é necessário esperar uma semana para iniciar a imunização?
João Gabbardo: As doses estão chegando em quantidades pequenas. Há previsão de que 50% das 3,6 milhões de vacinas chegue até sexta-feira. Depois disso, há procedimentos necessários para adequado armazenamento e refrigeração. A sua distribuição não funciona como se fosse uma caixa de remédio. Assim, as doses já estão sendo repassadas às Coordenadorias Regionais de Saúde, que passarão aos municípios e, por fim, aos postos de saúde.

CP: Há risco de faltar vacina nesta primeira semana, já que o Estado não terá todas as doses?
João Gabbardo: Há. Acreditamos que em função de o Estado ter registrado as primeiras mortes, a procura seja intensa. Projetamos que alguns postos de saúde tenham uma procura maior e haja a falta momentânea. É preciso que a população tenha um pouco de compreensão. Assim como é fundamental que as pessoas que façam parte dos grupos de risco busquem se imunizar. Acompanhamos em outros anos que foi necessário ampliar o prazo para atingir a meta.

CP: Qual a porcentagem de vacinação pela campanha?
João Gabbardo: Um terço da população deverá se imunizar nos postos de saúde. A vacinação é para aqueles que integram o grupo de risco. É importante que aquelas pessoas que tenham doenças associadas apresentem atestado médico comprovando a necessidade da vacinação. Haverá um cuidado muito grande com isso nos postos.

Por Mauren Xavier

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