Maguy Marin: “Da alegria de viver juntos à descida do paraíso ao inferno”

Maguy Marin: “Da alegria de viver juntos à descida do paraíso ao inferno”

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Philippe Grape / Divulgação / CP Philippe Grappe / Divulgação / CP


Neste sábado e domingo, às 21h, no Teatro do Sesi (Assis Brasil, 8787), o 23º Porto Alegre em Cena irá receber a sua principal atração internacional, o espetáculo "BiT", da francesa Compagnie Maguy Marin. Os ingressos estão disponíveis na Myticket do Moinhos de Vento (Rua Padre Chagas, 327, loja 6) e pelo site. O espetáculo concebido por Maguy Marin para seis bailarinos, que estreou em 17 de setembro de 2014 no Théâtre Garonne, em Toulouse, faz em Porto Alegre a estreia de sua turnê pelo país. Sob a influência do beat hipnótico da música eletrônica, a montagem apresenta a pulsação, os símbolos e como o humano se comporta pelos movimentos e o magnetismo dos corpos.

A hiperconexão é o mote e o eletrificar da música e dança perfazem as relações do espetáculo com uma hora de duração, interpretado por Ulises Alvarez, Kais Chouibi, Daphné Koutsafti, Cathy Polo, Ennio Sammarco, Marcelo Sepulveda. Com 65 anos de idade e mais de 40 anos de trajetória, Maguy Marin foi aluna de grandes mestres da dança, como Maurice Béjart, e já trabalhou com coreógrafas brasileiras, como Lia Rodrigues. Entre os seus principais espetáculos desta francesa natural de Toulouse estão “Cortex”, “May B” e “Cendrillon”. O Correio do Povo entrevistou a coreógrafa, que fala sobre o espetáculo, a carreira, os mestres e até a situação política brasileira.

Correio do Povo: Qual é a mensagem que a coreografia de BiT quer passar ao público?
Maguy Marin: Não é tanto uma "mensagem" e mais um estado de espírito do tempo em que vivemos. BiT está cheio de um odor ambivalente entre a alegria de viver juntos e situações intermediárias entre o paraíso e uma descida ao inferno.

CP: “Não sois máquina, homem é o que sois”. Esta frase de Charles Chaplin em “O Grande Ditador” ressoa um pouco na concepção de BiT?
Maguy Marin: Esta afirmação não necessariamente perpassa a concepção de BiT. A perda da humanidade tem sido considerada em outros aspectos do que só em relação à máquina.

CP: Qual é a matéria-prima das suas pesquisas coreográficas. É a vida, teu imaginário, perdas, livros (por exemplo, Samuel Beckett em “May B”)?
Maguy Marin: É tudo isso em cada vez..

CP: O que você exige dos seus bailarinos para que cumpram a rigor as suas propostas coreográficas?
Maguy Marin: Primeiro, nós procuramos em conjunto os materiais que vão fazer a coreografia, em seguida, em um segundo momento fico apenas escrevendo e tentando ser mais específica na composição.

CP: Qual o seu envolvimento com a dança feita no Brasil?
Maguy Marin: Na verdade, eu trabalhei com Lia Rodrigues com o qual mantemos uma ligação forte. Mais recentemente trabalhei com Vania Vaneau que está começando o seu percurso com coreógrafa. Mais eu não sei de outros artistas brasileiros da dança.

CP: Quem foram os seus grandes mestres? Maurice Béjart foi um deles. Existem outros?
Maguy Marin: Dos grandes mestres, há muitos e não apenas Maurice Béjart com quem tive a oportunidade de trabalhar. Há também aqueles que eu não tive a oprotunidade de conhecer, mas que marcaram a história da arte ou que nos trouxeram obras revolucionárias e há também os professores, os ainda desconhecidos...

CP: O Brasil vive uma grande crise política, uma presidente mulher foi deposta. O que você acha desta situação peculiar no Brasil e como a política integra as suas coreografias?
Maguy Marin: Sim, as forças de esquerda deviam ser inatacáveis no seu exercício do poder. Qualquer falha que cometem são usadas por forças reacionárias e capitalistas, que se valem de todos os tipos de calúnias para recuperar o poder e, com a ajuda de oligarquias e grupos financeiros internacionais, organizar a redução de todas as formas de progresso social em um país. Os artistas são tangidos por esse mundo injusto de arrogância incrível. Eles são como todo mundo e precisam assumir o seu trabalho nesta confusão com diferentes graus de consciência. Da minha parte, não posso me isentar de responsabilidade em relação a eventos catastróficos que desalinham nossas vidas. Muitas vezes me assola um sentimento de impotência e de não estar sendo suficientemente incisiva em relação a estas catástrofes.

Por Luiz Gonzaga Lopes

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