Marcelo Crivella: "Não troquei o interesse do povo por qualquer tipo de vantagem pessoal"

Marcelo Crivella: "Não troquei o interesse do povo por qualquer tipo de vantagem pessoal"

Ex-prefeito do Rio de Janeiro fala de sua gestão e das falsas acusações que o afastaram de seu cargo em 2020

Correio do Povo

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Engenheiro, escritor e político brasileiro, Marcelo Crivella esteve por quatro anos (2017-2020) à frente da cidade brasileira mais conhecida no mundo: o Rio de Janeiro. Contudo sua carreira política começou muito antes dele assumir a prefeitura carioca. Depois de atuar como missionário na África por dez anos, Crivella ingressou na política, em 2002, como senador. Reeleito em 2010, ele foi considerado pela instituição Transparência Brasil como um dos senadores com projetos mais relevantes para o País. Entre outras importantes funções, em 2012, assumiu o Ministério da Pesca e Aquicultura do País.

Toda sua experiência foi colocada à prova para enfrentar as crises na economia e na saúde pública carioca, além de desfazer acordos injustos para a população fi rmados por governos antigos. Em entrevista à Folha Universal, Crivella destaca as mudanças que fi zeram a diferença na vida dos cariocas, pontua seus principais desafi os e fala das falsas acusações de corrupção pouco antes do término do seu mandato. Acompanhe a seguir.

Uma das características de sua gestão municipal foi a mudança de prioridades. Na prática, como essa mudança foi benéfica à população?

Cortamos as verbas destinadas ao carnaval, à publicidade e às organizações sociais que atuavam na saúde e ainda colocamos fim no absurdo do pedágio da Linha Amarela, que gerou uma economia de R$ 1 milhão por dia aos motoristas. Com essa economia de recursos investimos em serviços como a educação. Ampliamos o número de vagas nas creches e dobramos o valor investido em cada criança. Colocamos café da manhã para os 600 mil alunos do município e compramos uniforme escolar com tênis e material com
livro. Isso nunca tinha sido feito antes. Abrimos as escolas das áreas carentes aos sábados para servir refeições e oferecer reforço escolar. Criamos ainda o Projeto Orquestra na Escola, quando 12 mil alunos aprendiam a tocar instrumentos e fizeram diversas apresentações, inclusive na Europa.

O senhor enfrentou algum tipo de resistência para implementar ideias que eram boas para o povo, mas desagradaram parte da mídia, que distorcia a informação, como no caso do pedágio da Linha Amarela?

O tempo todo, mas servir ao povo é dever de consciência e amor a Deus, sabendo do risco de ser apedrejado por quem defendemos. É importante explicar que, quando sofremos injustiças por obedecer à Palavra de Deus, além de ser grande o nosso galardão no Céu, nos tornamos a sementinha de mostarda que cresce o Reino de Deus. Apesar de tudo que sofri, hoje, todos os dias, milhares de pessoas assistem, às 18 horas na Record TV, a Oração ao Pé da Cruz, em que peço pela cidade que me preteriu e que amo tanto. Esse é o segredo do Reino de Deus e a Sua Justiça.

O projeto "Fazenda Canaã" nasceu na década de 90 quando a população da cidade baiana de Irecê passava por um período crítico causado pela estiagem. Crédito: Arquivo Pessoal / CP

Quais foram os principais desafios no período em que o senhor esteve à frente da prefeitura?

Peguei uma cidade com dívidas, enfrentei as piores tempestades dos últimos cem anos e a pandemia de Covid-19. Aliás, um ano antes do surgimento da Covid-19, por inspiração divina, comprei 18 mil equipamentos hospitalares, entre eles tomógrafos, monitores e respiradores, que me possibilitaram montar em 30 dias o maior hospital de campanha do Brasil, dedicar um hospital inteiro da rede para pacientes com Covid-19 e ainda emprestar equipamentos para mais de 20 municípios do Estado. Muitas vidas foram salvas. Graças a Deus!

Quais foram as mudanças na área da saúde durante sua gestão?

Foram quatro anos de muito trabalho, mas destaco o fato de termos equipado os hospitais e realizado 317 mil cirurgias e 60 mil cirurgias de catarata em idosos que voltaram a enxergar. Já os pacientes crônicos de hemodiálise passaram a ter táxi gratuito para o transporte durante seu tratamento.

Marcelo Crivella se diverte com crianças durante evento social na Fazenda Canaã. Crédito: Arquivo Pessoal / CP

Seu governo atuou na contramão de poderes que atuam no Rio, como o crime e a milícia. Como o senhor lidou com esse cenário?

Governei seguindo os princípios bíblicos e sabia que sofreria perseguições por contrariar alguns interesses. Os que me perseguiram, inclusive, me chamaram para conversar e me ofereceram benefícios, me alertando que, sem um acordo, eu perderia a reeleição, mas não troquei o interesse do povo por qualquer tipo de vantagem pessoal. Depois, o povo me trocou nas urnas, mas não me arrependo. Jesus, quando foi tentado no deserto e lhe ofereceram a glória do mundo, não nos trocou. Servi ao povo como se estivesse servindo a Jesus.

Como o senhor avalia a sua gestão como prefeito do Rio de Janeiro?

Gostaria de ter feito muito mais. Assumi uma cidade completamente falida e tive que enfrentar poderosos interesses para realizar o que fizemos e não deixar a cidade quebrar, como ocorreu com o Estado do Rio, que decretou falência.

Crivella diz que o pior momento do processo foi a morte da mãe: "É muito triste sair da prisão escoltado para ir sepultar a mãe."  Crédito: Arquivo Pessoal / CP

O senhor foi afastado do cargo sob suspeição de corrupção. Como foi o processo até que a Justiça o inocentasse?

Fui preso sem prova alguma contra mim depois de dois anos de investigação. Por isso, no mesmo dia, o Superior Tribunal de Justiça mudou a sentença para prisão residencial e, assim que o processo chegou ao Supremo Tribunal Federal, a prisão residencial foi anulada e considerada ilegal. Fui inocentado. Foram dias muito tristes na cela e depois em casa, com tornozeleira eletrônica. Mas o pior momento foi quando minha mãe morreu. É muito triste sair da prisão escoltado para ir sepultar a mãe.

O senhor acredita que houve manipulação para causar seu afastamento?

Sou suspeito para dizer, mas, assim que o novo prefeito assumiu, o pedágio voltou, assim como a verba para publicidade, carnaval e organizações sociais. Mandei fazer livros para as crianças e eles voltaram com apostilas que são folhas grampeadas, que amassam e rasgam. Acabou com o Cartão Alimentação que distribuímos mais de 2 milhões de unidades para  famílias pobres comprarem nos supermercados, no valor de R$ 54,25 cada um, e também parou com a distribuição de cestas basicas que dávamos muitas vezes junto com Cartão Alimentação. Escolas de áreas carentes não abrem mais aos sábados. Não se comprou uniforme e acabou a Orquestra nas Escolas. Não tem mais mutirão de cirurgias, inclusive o de catarata para idosos. Destruíram o hospital de campanha com 500 leitos no sexto dia de governo, o que hoje faz muita falta.

Como as acusações afetaram sua vida política na época?

Quando fabricaram o escândalo no meio do governo foi exatamente para destruir minha força política e o povo foi enganado por eles, mas é interessante notar que, sem provas, falavam que havia um QG da Propina de R$ 52 milhões na prefeitura. Pedi para atualizar o que doei com as vendas de CDs para o Projeto Nordeste e deu exatamente R$ 52 milhões. Será coincidência? Portanto eu não roubei, eu doei R$ 52 milhões.

Prefeito Marcelo Crivella foi preso em dezembro de 2020. Em fevereiro de 2021, teve a prisão revogada e em maio a promotoria pediu o arquivamento do processo | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia / AFP / CP

Por fim, quais foram os seus principais aprendizados ao longo de sua carreira política e quais são seus planos políticos para o futuro?

Que vale a pena ser como Abel: fazer o melhor sacrifício, ainda que isso custe a própria vida. E meu futuro, como sempre, está nas mãos de Deus.


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