Medicina do estilo de vida

Medicina do estilo de vida

Explorando a Medicina do Estilo de Vida: Transformando a Saúde Através de Mudanças Significativas

Paula Maia

publicidade

O que é a medicina do estilo de vida?

É uma prática clínica baseada em evidências científicas impressionantes, em que mudanças de estilo de vida, alimentar de verdade, movimento, desestressar e se conectar, são capazes de prevenir, tratar e até mesmo reverter a maioria das doenças crônicas das quais a gente morre cedo demais hoje em dia ou que causam um grande sofrimento para as pessoas.

Quais são os pilares da medicina do estilo de vida?

Se alimentar com comida de verdade, como ela está na natureza antes de ser industrializada, e predominantemente vegetal (frutas, grãos integrais, feijões, verduras, legumes, tudo com bom tempero, é claro). Movimentar o corpo, qualquer movimento, é bem-vindo. Conectar-se mais com as pessoas e com o mundo. Saber lidar bem com o estresse nosso de cada dia.

A forma de se compreender a saúde está mudando?

Entendo que a medicina do estilo de vida é o tipo da ideia em que o tempo dela chegou. Há grande interesse por parte dos profissionais de saúde. As pessoas estão buscando por isso. É o tempo do empoderamento das pessoas. Isso em harmonia com medicamentos e cirurgias, quando necessários.

Como as emoções são processadas no cérebro e como elas afetam o comportamento humano?

As emoções são resultado de experiências que a gente vive no mundo externo (uma notícia boa, uma notícia ruim, um pôr do sol, o nascimento de um filho, uma música) e no mundo interior (pensamentos e memórias). Isso tem o poder, via neuroplasticidade, de mudar nossas redes neurais e nosso sistema nervoso e causar o que chamamos de emoções – que é o sentimento em ação no corpo. Somos muito influenciados pelas emoções e ter a inteligência para lidar com elas, reconhecê-las e equilibrá-las, é condição para que a gente consiga navegar por mares agitados, florescer na vida e ir atrás do que importa para você.

Como a plasticidade cerebral permite que o cérebro se adapte e mude em resposta ao ambiente?

A plasticidade cerebral engloba mudanças no funcionamento dos neurônios, produção de neurotransmissores (como serotonina e dopamina, por exemplo) e fortalecimento de redes neurais (neurônios que disparam juntos). Isso tudo é influenciado pelo meio ambiente. Mudar o seu meio ambiente pode ajudar ou atrapalhar o seu cérebro. Há décadas atrás, achávamos que o cérebro era imutável. Mas o cérebro é plástico.

A qualidade do sono afeta o cérebro e o comportamento humano?

Muito. O sono é um mecanismo de reequilíbrio do cérebro via metabolização das emoções vividas durante o dia. Além disso, o sono é necessário para uma fisiologia adequada do sistema nervoso. Olhe para uma criança com privação de sono e veja que ela entra em um modo irritado, imediatista e catastrófico, fica entregue às emoções difíceis. O mesmo acontece com você adulto, só que você disfarça bem, mas sofre por dentro.

Como mudar o estilo de vida?

Tendo clareza do que você quer mudar, tendo clareza de porque você quer mudar e criando pequenos passos em que você celebre cada conquista por menos que seja. Resumidamente é por aí.

Quais são as principais preocupações em relação ao bem-estar mental no ambiente corporativo?

É doloroso para pessoa que sofre, é doloroso para a empresa que perde em produtividade, é doloroso para o custo que isso gera em gastos com seguros de saúde. É “perde, perde, perde”. E podemos transformar isso, quando mudamos, para “ganha, ganha, ganha”. Uma empresa com saúde mental é uma empresa em que todos ganham e quem floresce é o ser humano.

Quais são os benefícios de um estilo de vida saudável para a saúde física e mental?

Se alimentar bem, movimentar o corpo, gerenciar o estresse e se conectar positivamente com pessoas e com o mundo, esse estilo de vida saudável é capaz de mudar o seu sistema nervoso, te dando a saúde mental que você tanto deseja.

Como as empresas podem fornecer suporte adequado para os funcionários que precisam de ajuda?

Com programas de acolhimento, com programas de medicina do estilo de vida. O ecossistema de saúde nas relações humanas, com treinamentos de comunicação não violenta, também ajuda muito. As novas gerações têm uma mentalidade diferente, em que o trabalho tem que estar ligado à saúde e a um significado pessoal. É preciso estar atento a isso também.

Como as memórias são formadas e armazenadas no cérebro e como elas afetam o comportamento humano?

Essa é a fronteira da neurociência. É um assunto que me fascina. Compreendemos que temos a área principal no cérebro responsável pela memória, que é o hipocampo, mas quando chegamos ao nível celular do neurônio, no final das contas, o que temos são átomos de carbono e companhia. Os átomos são prótons, elétrons e nêutrons. Eletricidade. Onde está a memória? Neste lugar. Eu adoro essa conversa!

Como as diferentes regiões do cérebro se comunicam e trabalham juntas para produzir comportamentos complexos?

Os métodos de imagem de ressonância magnética funcional têm demonstrado, na última década, que o cérebro funciona de modo integrado. Ele trabalha exatamente tudo junto. A comunicação é via sinapse, que é o espaço entre um neurônio e outro neurônio, aliado a impulso elétrico e transformado em químico via neurotransmissores como dopamina e serotonina. É um universo incrível.

Qual é o seu estudo mais recente?

É sobre alimentação saudável. Quando falamos de alimentação saudável no Brasil, pensamos que ela tem que ser acessível em termos de renda para populações carentes. O que descobrimos é que o que se gasta com uma alimentação saudável é equivalente ao que se gastaria com uma alimentação não saudável. Isso fortalece a possibilidade do estilo de vida saudável.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895