Milton Nascimento: "Precisamos passar um sentimento de esperança"

Milton Nascimento: "Precisamos passar um sentimento de esperança"

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Milton: Milton: "...o grande amor da minha vida era uma gaúcha, a rainha Elis Regina" | Foto: Nathalia Pacheco / Divulgação / CP


Após um ano de período sabático, sem concertos e com poucas aparições públicas, Milton Nascimento apresenta um show que leva a esperança ao seu público e também aos índios Guarani Kaiowá, que batizaram o músico mineiro, com 50 anos de carreira, de Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi, ou, Semente da Terra, numa cerimônia em 2010. Semente da Terra, nome desenhado pelos índios naquela noite pantaneira de maio, foi escolhido para a volta de Milton ao encontro direto de seu público. Com realização da Opus Promoções, o novo projeto chega a Porto Alegre para única apresentação nesta sexta-feira, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre. Os ingressos estão à venda pelo site e fone 4003-1212 ou na bilheteria do Teatro do Bourbon Country, com preços entre R$ 70,00 e R$ 180,00.

Com direção musical de Wilson Lopes (que também toca violão), o show conta com a presença do irmão do diretor, Beto Lopes (sete cordas), do baterista Lincoln Cheib, além do contrabaixo de Alexandre Ito, dos vocais de Barbara Barcellos, do piano de Kiko Continentino e dos metais de Widor Santiago. O repertório foi montado a partir de músicas com forte conotação política e social. O nome do show também com a campanha do músico, iniciada no ano passado, que quer repassar parte do lucro obtido com a venda de camisetas de sua marca (Nascimento) para tribos Guaranis de Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao Correio do Povo, Milton fala da esperança que este show quer levar, da sua paixão pelos gaúchos e por Elis Regina, do repertório do show - que não irá esquecer de sucessos como "Nos Bailes da Vida", "Coração de Estudante" e "Nada Será Como Antes" -, do que fez durante o ano sabático e também se seria possível uma reunião dos integrantes do Clube da Esquina na atualidade.

Correio do Povo: Qual é a concepção deste show Semente da Terra?
Milton Nascimento: Em praticamente todas as entrevistas eu tenho dito a mesma coisa. Precisamos passar um sentimento de esperança. E este é nosso principal objetivo, precisamos disso no momento atual. Então este show é uma forma direta de passar essa mensagem. As músicas foram escolhidas para representar tudo o que eu tenho vivido, incluindo o futuro. É por isso que tem coisas desde meu primeiro disco, passando pelo Milagre dos Peixes até a fase das Diretas Já. Mas também representa os 50 anos de Travessia e os 45 de Clube da Esquina. Tá tudo nesse show, que pra mim é como um sonho. E eu quero que as pessoas sonhem.

CP: Como foi selecionado o repertório e trabalhados os arranjos?
Milton: Quando se tem grandes parceiros ao longo da vida, como eu tive, sempre é difícil montar um repertório. Afinal, quarenta discos são uma vida. O set list deste show começou a ser levantado pelo Japa (Danilo Nuha, diretor artístico do show) mas depois acabamos discutindo todos juntos com o Wilson Lopes (diretor musical, arranjos e cordas) e também com Augusto Kesrouani (meu filho e empresário). Mas não tem jeito, sempre acaba ficando alguma de fora. Só que eu posso garantir uma coisa, os maiores sucessos estão todos aí, “Coração de Estudante”, “Nos Bailes da Vida”, “Milagre dos Peixes”, “Caxangà”, “Nada Será Como Antes”, e muitos mais.

CP: Como se deu este teu envolvimento com as tribos Guarani, estabelecidas no Centro-Oeste do país?
Milton: O meu primeiro contato com os povos indígenas em geral começou nos anos setenta, eu estava em São Paulo e conheci alguns índios da Amazônia. Ali já tive uma identificação muito forte. Depois surgiu o projeto TXAI, que virou disco em 1991, quando me encontrei no Acre com os índios da Tribo Ashninka. Depois disso, a causa indígena sempre esteve presente na minha vida. Até que fui batizado em 2010, pelos índios Guarani Kaiowá do Mato Grosso Sul. Eles, inclusive, foram a principal inspiração para este show, Semente da Terra.

CP: O Brasil tem uma política digna de proteção ao índio? O que poderia ser feito por esta causa destes que são os donos desta terra brasilis?
Milton: Precisamos entender primeiro a situação atual vivida não só pelos Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul, mas também dos povos indígenas de todo Brasil. E só a partir disso que a gente pode formar um pensamento único no sentido de ajuda-los. É necessário que todos trabalhem juntos, governo e sociedade civil. Para isso, temos que nos cercar de especialistas que sejam profundamente conhecedores do tema, no Brasil temos o Rubens Valente.

CP: Se podes nos contar, o que fizeste durante este período sabático, sem gravações, atividades e shows?
Milton: Me mudei do Rio de Janeiro para Juiz de Fora (MG), onde meu filho Augusto estudava direito. Na verdade, continuei fazendo as mesmas coisas de antes, recebendo amigos em casa, vendo filmes, assistindo TV... E eu só tinha dado mesmo foi um tempo com os shows, mas minha rotina era a mesma.

CP: Nestes 50 anos de carreira, qual e a sensação a respeito da força da tua música e composições?
Milton: É muito difícil falar de mim mesmo e analisar minha própria carreira, prefiro que vocês da área e os fãs façam por mim.

CP: Ultimamente há um lufar de reuniões de grandes músicos. Tens algo previsto para te reunir com alguns amigos, tipo Clube da Esquina ou outros grandes nomes da MPB?
Milton: O Clube da Esquina já deu sua contribuição ao mundo. Estamos no momento de viver coisas novas, pois cada um já tem seus projetos e vai seguindo a vida muito bem assim.

CP: Como tu analisas o momento atual da música brasileira?
Milton: Cada época tem sua própria geração de músicos, e o pessoal hoje aí lutando né? A música brasileira sempre se reinventa.

CP: Para finalizar, gostaria de algumas palavras sobre a relação com o público e músicos gaúchos?
Milton : Um dos meus lugares preferidos para fazer show sem dúvida nenhuma é o Rio Grande do Sul, pois definitivamente é um dos lugares em que mais sou bem tratado no mundo. Tenho muito carinho pelos gaúchos. E sobre os músicos, nem preciso falar muito, ainda mais que o grande amor da minha vida era uma gaúcha, a rainha Elis Regina.

* Por Luiz Gonzaga Lopes




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