Nova droga contra o câncer de mama

Nova droga contra o câncer de mama

Taís Teixeira

José Luís Pedrini, coordenador do serviço de mastologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição

publicidade

O uso de uma nova droga acende uma luz no tratamento e se aproxima de uma possível cura do câncer de mama. O chefe do serviço de mastologia do Hospital Conceição, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia, José Luiz Pedrini, participa há quase três anos de um estudo mundial que acompanha grupos de pacientes com câncer metastático, que é quando a doença não se limita à mama e se espalha pelos demais órgãos do corpo. Elas passaram por muitos tratamentos, sendo que todos falharam e a doença persistiu. O mastologista coordena um grupo de sete mulheres há dois anos e meio. Neste tempo, elas tiveram bloqueio da doença e seguem o tratamento associado a uma vida normal. Mestre e doutor, Pedrini dedica-se à pesquisa há 22 anos e é um dos autores mais referenciados no mundo com relação a estudos sobre câncer de mama. Ele diz que, em todos seus anos de pesquisa, nunca viu uma medicação com esse potencial de resultado.

Qual é o diferencial em relação às medicações que já existem?

O Trastuzumabe-Deruxtecan é uma medicação biológica que tem uma vacina para terapia biológica alvo dirigida. Essa droga é inserida no interior de um anticorpo que, ao entrar em contato com uma célula tumoral, é absorvido por ela e, lá dentro, libera o medicamento que destrói não somente essa célula, mas atinge as que estão ao redor. Esse efeito é um dos diferenciais desse combinado que gerou essa medicação. Após dez dias de tratamento, as pacientes tiveram melhoras na parte respiratória e as dores diminuíram consideravelmente. Além disso, tem efeitos colaterais muito baixos, sendo mais náuseas e vômitos, e não há uma queda de cabelo expressiva como ocorre na quimioterapia.

De que forma ocorre o estudo?

Esse é um estudo mundial com muitos grupos de pesquisa que estão no Brasil, Estados Unidos, países europeus e orientais. A testagem precisa contemplar diferentes etnias porque há algumas diferenças de DNA que se refletem no padrão de comportamento da doença. Além disso, seguem as boas práticas clínicas. Há um perfil de pacientes escolhido. Elas precisam ter o tipo HER2 com expressão máxima tumoral, tipo que acomete de 25% a 30% das mulheres, já terem passado por todos os tipos de tratamento e todos terem falhado e tumor não ser resolvido com cirurgia. Ou seja, o tratamento aparece como último recurso. O grupo que eu lidero começou com dez pacientes. Uma faleceu de Covid-19 e duas tiveram avanço da doença e não puderam continuar no grupo. Essa é outra exigência para estar na pesquisa: a doença não pode avançar.

Como é o tratamento?

Essa é a primeira fase do tratamento. O líquido está em uma ampola e é aplicado por injeção intravenosa a cada 21 dias. Ele dura enquanto fizer efeito. É uma surpresa inédita e gratificante lembrar quando elas chegaram em cadeiras de roda, com sérios problemas respiratórios, e uma usando até morfina para aliviar a dor, e agora vê-las com a doença bloqueada, lesões desaparecidas, o que possibilitou que retomassem a vida que tinham antes da doença. Essas pacientes, em dois anos e meio, passaram por 45 ciclos de tratamento. Se a doença avançar ou surgir uma intolerância que ainda não existia, o tratamento é interrompido.

Tem uma previsão de quando estará acessível a toda a população?

Essa medicação é cara por ser biológica. Acredito que, em um primeiro momento, estará disponível em planos de saúde. Pelo Sistema Único de Saúde, pode ser que seja autorizado pela via judicial para pacientes que estejam dentro do perfil que foi pesquisado nesses quase três anos: com HER2, com todas tentativas de tratamento falhas e que não possa resolver mediante cirurgia.

Como será a fase dois?

Já estamos aplicando em duas pacientes HER2 baixa expressão tumoral. Acreditamos que dará certo. Futuramente, queremos usar o tratamento antes da cirurgia e também substituir a quimioterapia.

O Rio Grande do Sul segue como um dos locais com mais incidência de câncer de mama no Brasil?

Sim. Isso se deve em parte à forte descendência caucasiana no Estado, o que faz com que o DNA seja parecido com o DNA europeu, onde a doença também atinge muitas mulheres.

O ritmo de vida interfere? Há alguma medida que possa prevenir essa doença, além de realizar os exames regularmente para detecção precoce, conforme a idade e histórico da paciente?

Estudos mostram que o câncer de mama se manifesta mais em mulheres mais desenvolvidas culturalmente e financeiramente, enquanto o câncer de colo uterino em mulheres mais pobres. Por exemplo, médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem estão mais propensas a ter a doença porque passam muitas noites em claro ao longo da vida. E a noite foi feita para dormir.

Aconselho a seguir a dieta mediterrânea à base de grãos e ingerir duas colheres de azeite de oliva, que podem ser adicionadas na comida. Praticar exercícios físicos é muito importante e, principalmente, sorrir mais. Faça coisas que as deixem felizes.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895