Nova terapia dá mais esperanças

Nova terapia dá mais esperanças

Descubra o poder revolucionário do CAR-T: a terapia que utiliza as próprias células de defesa do paciente no combate ao câncer!

Paula Maia

publicidade

O que é CAR-T ?

O CAR-T Cell é uma modalidade de tratamento que emprega as próprias células de defesa do paciente para o tratamento. O nosso sistema de defesa é dividido em vários tipos de células, é como se fosse um exército que vai desde o soldado até o general. As células T do paciente são coletadas e levadas para o laboratório e nesse local são modificadas e recebem um novo receptor, que se chama CAR.

Quais são os principais desafios no desenvolvimento e implementação da terapia com CAR-T?

Um dos aspectos mais importantes é que é uma terapia complexa, então ela requer uma equipe experimentada que saiba usar esse tipo de célula porque o paciente, uma vez que recebe esse tratamento, ele pode ter uma reação inflamatória no seu corpo grave e ele pode parar na UTI por conta disso. O segundo é que, para a realização da coleta de células, a gente também precisa de uma estrutura adequada.

Quais são as taxas de resposta e remissão em pacientes tratados com CAR-T?

É muito variada a taxa, de acordo com a doença. Pacientes com linfoma podem ter 50% de chance de controle da doença em cinco anos. Pacientes com leucemia linfoide aguda podem chegar a 60%.

Qual o valor da medicação atualmente?

Essa é uma medicação muito cara. Hoje, o valor está em torno de 2 milhões de reais. Isso traz para o sistema, de maneira geral, um desequilíbrio. Quando a medicação é muito cara, é ruim para todos. A fonte pagadora, que é o plano de saúde, não consegue pagar. O médico não vai ter o produto. O paciente não vai ter o acesso necessário e a indústria não vende o produto dela. Então é ruim para todo mundo.

Como os pesquisadores estão trabalhando para superar as limitações das CAR-T, como a resistência do tumor ou a toxicidade das células modificadas?
Existem numerosos protocolos com novos tipos de CAR-T. O atual ataca um alvo chamado CD 19 e hoje temos CAR-T para outros alvos como o CD 20 ou CD 22. A investigação de novos tipos de alvos para o CAR-T é uma maneira de trabalhar as limitações. Em relação à toxicidade, estamos trabalhando para atuar de forma mais precoce no tratamento das complicações possíveis e usar medidas preventivas sem diminuir a boa resposta ao tratamento.

Existe a possibilidade de essa técnica ser utilizada em outros tipos de câncer?

Existe. Nós temos mais de 800 estudos espalhados ao redor do mundo testando células para o tratamento. A grande maioria dos testes hoje são feitos em pacientes com o que chamamos de tumores sólidos: mama, próstata, fígado e gastrointestinal. Ainda não temos nada aprovado pela FDA nos EUA, nem pela Anvisa, no Brasil, mas existem estudos que, em algum momento, serão fontes de informação e dados para poder pedir o registro dos produtos e, fatalmente, nos próximos anos, os teremos para os pacientes com tumores sólidos.

Quando foi tratado o primeiro brasileiro com a terapia CAR-T?

Aconteceu em 2019, através de um protocolo experimental, que está em desenvolvimento em Ribeirão Preto. Eu estava lá e coordenei a equipe clínica. Era um paciente com leucemia linfoma de células B, de Belo Horizonte. Ele participou da fase de validação do estudo. Por conta disso ele teve a sua célula utilizada. Ele recebeu o tratamento e teve uma ótima resposta. Infelizmente ele teve um acidente domiciliar e acabou falecendo.

Como é realizada a avaliação do paciente?

A Oncoclínicas criou internamente um sistema baseado em um comitê que avalia de forma muito rigorosa as indicações e, se de fato, o paciente terá benefício com a medicação. Então, tem um rigor técnico muito grande para as indicações. É um tratamento que não é isento de riscos. Com avaliação detalhada, temos uma previsibilidade do que pode acontecer. O grupo Oncoclínicas está presente em várias cidades do país. É o maior grupo de oncologia do Brasil. O tratamento é realizado em unidades de transplante de medula óssea. Temos hoje em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Mas não há necessidade de, inicialmente, o paciente ir até uma das unidades. Tivemos um paciente onde o caso foi discutido com o comitê e o paciente não precisou sair de Porto Alegre.

Quais os próximos passos?

Fazer com o que está chegando ao Brasil hoje seja implementado de uma forma viável para todo mundo. A médio e longo prazos, temos que pensar em ter as nossas próprias áreas e unidades de biotecnologia no Brasil. Pode ser através de institutos e iniciativas privadas. O Brasil tem um parque de indústria farmacêutica muito forte. Precisamos ter condições de produzir o próprio CAR-T.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895