O setor de combustíveis em análise

O setor de combustíveis em análise

Por Felipe Faleiro

Felipe Faleiro

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Itacir Neco Argenta iniciou, com seu irmão Deunir, a SIM Rede de Postos, em 1985, em Flores da Cunha, na Serra Gaúcha. De lá para cá, a empresa se tornou um grande conglomerado em distribuição de combustíveis e expandiu sua atuação a outros setores. Tal crescimento chamou a atenção do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Rio Grande do Sul (IBEF-RS), que escolheu Neco, que já integrou o Conselho de Revendedores da Petrobras, como o Executivo de Finanças do Ano de 2022.

A que o senhor atribui o recebimento do prêmio como Executivo de Finanças do Ano?

É uma soma de fatores. Primeiro, é uma história construída. Sempre falo, em tudo o que atuo, que tudo é causa e consequência. Acho que este recebimento é a consequência de um trabalho que vem sendo feito dentro da nossa empresa há 37 anos. Mas, claro, com mais fundamentação, alinhamento mais estratégico nas nossas empresas nos últimos dez anos. Então, acredito que é uma soma de tudo o que tem sido feito nos últimos anos, não somente especificamente medido pelo ano de 2022. Este está sendo um ano ímpar para a nossa empresa, pelas aquisições e por um novo posicionamento nosso no mercado. Atribuo (o prêmio) a esta soma deste jeito SIM de fazer, alinhado dentro de nossos valores muito claros enquanto companhia, respeitando nossos funcionários, clientes, fornecedores, e estamos colhendo frutos deste plantio dos últimos anos.

Como está atualmente o setor de combustíveis no Rio Grande do Sul?

Os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, com reflexos nas reservas de petróleo nos Estados Unidos e no fornecimento energético para a União Europeia, também refletem aqui? Refletem, porque como a política da Petrobras, do Brasil, é relacionada com o barril do petróleo mundial, essa guerra da Ucrânia e da Rússia, como a Rússia hoje detém praticamente 10% da produção mundial, tem impactado o preço. O barril de petróleo chegou a 140 dólares. Se não houvesse a guerra, acredito que o barril estaria 60 dólares, e o preço tenderia a baixar, independentemente daquela ação que o governo federal e estaduais fizeram para a redução dos impostos.

O ICMS reduzido para os combustíveis se encerra em 31 de dezembro. Baseado em seu conhecimento do setor, o que deve acontecer após este prazo?

Não vejo porque o combustível e energia elétrica têm de pagar 30% (de ICMS sem a redução), e não entendo porque a carne, nada contra ela, arroz, feijão ou qualquer outro bem móvel seria 17%. Me parece que as alíquotas igualitárias fazem todo o sentido e são justas para o consumidor. E também vejo que o ICMS igualitário para o Brasil inteiro, para a cadeia dos combustíveis, é muito importante para não haver o problema das sonegações e para que não haja outros tipos de atuação que não sejam da forma lícita. Acredito muito que esta alíquota deverá, se não em um primeiro momento, mas em um futuro próximo, continuar como está. Talvez os governos proponham fazer de forma gradativa a redução, como foi aqui no Rio Grande do Sul, de 30% para 25%, e de 25% para 17%. Então acho que isto é algo a ser perseguido por nós, não para o segmento de combustíveis, mas pelos consumidores, que seja o ICMS de 17% sobre um produto em toda a cadeia. O ICMS é sobre o preço final de qualquer produto. É muita participação do Estado em um produto, seja ele qual for, um estofado, um carro, combustível, e também toda a cadeia relacionada à sua construção.

Qual sua opinião sobre a carga tributária relacionada aos combustíveis, em âmbito estadual e federal? Há espaço para mudanças?

Se sim, o senhor tem dialogado com os respectivos governos para isto? Temos conversado sim, há até uma movimentação relacionada aos TRRs que vai acontecer, mas é um pouco mais complexo de explicar. Claro que a receita dos combustíveis, da energia elétrica e dos serviços representa muito para os estados, porém vejo que é uma questão política. Como diminuir o imposto? Somente diminuindo o Estado. Como você diminui o custo de sua casa? Somente dentro de uma casa menor. Então vejo que o governo tem de fazer estes movimentos para que as coisas sejam ajustadas, na questão de diminuir o estado e não aumentar impostos.

O setor de combustíveis tem sido acompanhado pela população, seja pelas sucessivas mudanças nos preços, por medidas como a adoção da nova nomenclatura dos valores nos postos ou pelo aumento da transparência na divulgação da composição tarifária. O que senhor acha sobre população assumir o papel de fiscalizadora destes aspectos relacionados aos serviços das empresas produtoras e distribuidoras?

A informação sobre os custos abertos do produto é importante, mas não sei se o pessoal para e vê. Acho que isso não faz parte da população, que precisa cobrar o que falei há pouco: isonomia em preço e impostos, todos eles iguais. Claro, o combustível é um produto sensível. Mas, se perguntar para uma dona de casa que tenha carro, ela sabe quanto custa o preço da gasolina, mas se perguntar quanto custa o quilo do arroz ou do açúcar, não sabe. Expor o preço, acho que é justo e importante também, se é duas ou três casas. Nós temos as placas que a ANP (Agência Nacional do Petróleo) exige, há uns três, quatro meses, mas eu pergunto a você, já foi olhar uma daquelas placas? Acho que nem 1% da população vai olhar, então é informação só para fazer de conta. Acho que vale mesmo entender o tamanho, ou, pelo menos, o percentual do imposto aplicado, que é o que mais impacta o ICMS.

Qual sua visão sobre a atual política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras, acompanhando o desempenho dos valores do petróleo no exterior? É correta ou o senhor defende mudança?

Entendo que o melhor modelo a ser aplicado na Petrobras é o de livre economia, balizado ao barril do petróleo mundial. Não vejo porque não estar alinhado, porque o Brasil é um grande produtor. Hoje, praticamente produzimos 120% do que consumimos no Brasil, então exportamos mais do que importamos. Só que temos de exportar um petróleo pesado para importar um petróleo leve, para fazer diesel. Então, me parece que balizar pelo barril do petróleo internacional é vantagem para o Brasil, porque exportamos mais do que importamos, produzimos mais do que consumimos. Temos ainda praticamente 20% que exportamos e acho que isto é justo. Quando sobe o barril, todo mundo se queixa, mas quando baixa, ninguém se queixa.


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