Paixão pela arte e pela medicina

Paixão pela arte e pela medicina

Profissional reconhecido no país e no mundo na área da saúde, principalmente na oncologia, Schwartsmann também é um grande apoiador de projetos culturais no Rio Grande do Sul.

Rodrigo Thiel

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A Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, da qual o senhor faz parte, está montando um decálogo para facilitar o acompanhamento em saúde. Como ele funcionará e qual a importância deste projeto?

Isso é muito importante. Nós estamos desenvolvendo uma folha de papel, nada mais do que isso, que tenha itens bem simples com as ações que nós devemos fazer para prevenir doenças e reduzir mortalidade no nosso Estado. É possível fazer isso não só em relação ao câncer. É possível fazer isso em relação às doenças cardiovasculares, por exemplo, e a outras doenças que dependem de hábitos. E nós vamos distribuir isso nas instituições. Vamos fazer com que qualquer pessoa que lide com saúde possa ter esse papelzinho e checar em cada paciente e ver se ele já fez o seu tema de casa na saúde. Eu acho que isso vai ser muito importante para nós como elemento prático para poder garantir que as pessoas não deixem de fazer aquelas coisas que já se comprovaram o suficiente que ajudam a reduzir as mortes na nossa população. O nosso país ainda é, infelizmente, muito injusto. A informação sobre saúde é muito mal distribuída. Não é todo mundo que sabe o que tem que fazer para reduzir risco. Então, a ideia é que qualquer pessoa que chegue ao sistema de saúde faça essa pequena checagem.

O senhor tem uma trajetória longa também nas atividades culturais. Como surgiu a paixão pela arte?

Desde criança, sempre fui estimulado pela minha família neste sentido. Os meus pais valorizaram que os filhos tivessem contato com cultura, com livros, com música, com pintura e todas essas coisas. A minha mãe especialmente é uma mulher que sempre cantou muito bem, sempre recitou poesias. Em casa, nos aniversários, havia um momento especial, uma hora de arte, como nós chamávamos. Eu sempre cresci rodeado de itens culturais e artísticos. Sempre houve muitos livros na minha casa. Sempre frequentamos bibliotecas. Então, eu acho que isso é uma coisa que vem do ambiente familiar.

Explica para nós o que é um bibliófilo e quais os principais itens do seu acervo?

Eu sou uma pessoa que sempre gostou de ler. Sempre li muito. Me dá muito prazer, pois é algo que permite que a gente exercite a imaginação. Acho que isso é muito importante na criança e no adolescente, poder alimentar a fantasia e a imaginação. Eu, desde comecei a reunir livros na minha casa, comecei a fazer uma pequena coleção. Fui estimulado por alguns professores. Lembro da minha professora de história, a dona Giselda, que disse que eu devia ler o mais rápido possível “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, que ela considerava uma obra maravilhosa, e eu fiquei encantado com aquilo. Eu comprei uma edição na Livraria Globo que tinha cada estrofe em italiano traduzida para português ao lado. E por aí eu comecei. Sempre fui alimentando este prazer da coleção de livros, de obras raras, de primeiras edições. Ainda que este seja um prazer muito solitário, pois não tem muita gente para conversar sobre isso. Mas a gente sempre encontra alguém com os mesmos interesses. E, ao logo do tempo, fui montando uma coleção interessante de primeiras edições e de obras raras.

Além de curador, o senhor também é chamado de mecenas em projetos de arte no RS. Como é feito este trabalho e qual a importância dele, na sua visão, no fomento da cultura?

Ao longo da minha vida, eu tenho tido muita atividade na área da cultura, o que para mim é normal, pois sempre gostei de escrever, de participar de grupos de teatros e atividades literárias. Ao mesmo tempo, a vida foi me dando oportunidades de me dedicar a projetos culturais, filantrópicos ou não, e eu sempre gostei disso. Acho que é uma coisa que torna a vida da gente mais bonita, mais interessante, mais rica. Se a gente não alimenta a própria vida com eventos bonitos, com coisas que nos deem alegria, prazer e felicidade, ela fica muito sem graça. Então a cultura e a arte são formas de a gente tornar a existência mais bonita, mais rica. E ao longo dos anos fui me dedicando à cultura e à arte e acabei sendo convidado para fazer parte de atividades nessas áreas de uma maneira mais responsável, mais séria, como presidindo a Fundação Bienal de Artes Visuais no Mercosul, que foi uma experiência linda para mim, assim como a Associação da Biblioteca Pública do Estado e do Theatro São Pedro. E agora, mais recentemente, a presidência da Fundação Ospa, que sempre foi algo mágico para mim e para todos os gaúchos. 

Como surgiu este convite do governador Eduardo Leite para assumir a presidência da Fundação Ospa e como estão sendo os primeiros meses de trabalho?

Olha, suspeito que a minha querida amiga secretária de Cultura, Beatriz Araujo, tenha dito para o governador deste meu envolvimento com atividades culturais. Ela e eu somos velhos companheiros da cultura. Então, esta aproximação permitiu um contato mais direto com o governador Eduardo Leite, que depois se estreitou. Ele sabia que eu tinha este encanto pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Eu acho que a Beatriz deve ter dito para ele. E o governador me surpreendeu com um convite em uma cerimônia na Biblioteca Pública, que foi um momento que jamais me esquecerei. Ele convidou em frente ao público, sem nenhum combinado prévio, para que eu aceitasse a presidência da Fundação Ospa. Fiquei muito feliz e aceitei imediatamente.

Como apaixonado por arte, como o senhor vê a valorização da cultura aqui no Rio Grande do Sul?

Acho que nós temos uma atividade cultural no Rio Grande do Sul impressionante. As pessoas precisam olhar o que acontece aqui no nosso Estado culturalmente. Olha a quantidade de eventos culturais e artísticos que temos em todas as áreas da cultura. As pessoas às vezes viajam e ficam maravilhadas quando caminham por Paris, entram em uma igreja e há um recital. Nós temos isto, com concertos com 100 músicos, todas as semanas em Porto Alegre. Então, acho que o gaúcho devia olhar um pouco mais para a sua própria atividade artística e cultural. E também cada vez mais prestigiá-la, apoiá-la. Prestigiar significa frequentar esses eventos, valorizar aplaudindo os artistas.

Atualmente, o senhor se considera um médico apaixonado por arte ou um apaixonado por arte que também é médico?

Eu me considero um ser humano que gosta de buscar a felicidade. E ela vem de todas as fontes possíveis e imagináveis.


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