Recuperar os ecossistemas do RS
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Com o objetivo de recuperar a vegetação de ecossistemas do Rio Grande do Sul, um grupo de oito pessoas, de diferentes instituições, das áreas de pesquisa, gestão ambiental, extensão rural e conservação, criou a Rede de Restauração Ecológica. Um dos fundadores é o coordenador substituto e professor do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Botânica e professor do PPG de Ecologia da UFRGS, Gerhard Overbeck. No momento, a Rede está angariando mais pessoas e definindo grupos de trabalho com objetivo de promover a restauração ecológica. Ao Correio do Povo, Overbeck contou detalhes do projeto e falou sobre os biomas do Estado.
O que é a Rede Sul de Restauração Ecológica?
A Rede Sul de Restauração Ecológica é um movimento coletivo de atores interessados em promover e divulgar a restauração ecológica de campos e florestas no sul do Brasil. É uma rede aberta para a participação de pessoas e instituições que querem contribuir para a recuperação de áreas degradadas no Estado, incluindo produtores rurais, pessoas ou organizações interessadas na conservação e pesquisadores.
Quem são os fundadores da Rede?
A Rede foi iniciada por um pequeno grupo de profissionais que trabalham com temas relevantes para a restauração ecológica: pesquisadores da área, gestores na área ambiental e pessoas que trabalham com extensão rural e conservação. Percebemos a necessidade de uma articulação melhor entre os atores na área de restauração e, principalmente, a necessidade de dialogar mais com produtores rurais para, de fato, poder avançar na restauração e, assim, alcançando as metas postas, por exemplo, em nível nacional.
Quais são suas finalidades?
Pretendemos comunicar à sociedade a importância de conservar remanescentes de vegetação natural e de recuperar áreas degradadas, bem como incentivar estudos na área da restauração ecológica no sul do Brasil a fim de aumentar o conhecimento, mas com envolvimento dos produtores rurais e do setor produtivo. Com isso, também queremos promover a criação de cadeias produtivas de restauração, por exemplo, envolvendo a produção de mudas e sementes, e assim possibilitar a restauração em larga escala.
Qual é a área de atuação da Rede e como vai agir em defesa desses ecossistemas?
Com a Rede, pretendemos conectar atores que atuam com a conservação e restauração dos ecossistemas nativas Rio Grande do Sul, contribuindo para a divulgação de conhecimento, tanto entre pessoas envolvidas com a restauração, quanto para o público geral. Vamos juntar e sintetizar o conhecimento sobre a restauração e os seus benefícios e incentivar a pesquisa em áreas estratégicas. Vamos também levantar informações sobre necessidade e demanda para a restauração, a fim de que o planejamento da restauração ecológica seja facilitado e incentivado. A ideia é avançar, em trabalho conjunto, no conhecimento sobre estratégias e técnicas de restauração, ligando atividades de pesquisa com atividades práticas de restauração, envolvendo também produtores rurais. Os diferentes setores precisam aprender uns com os outros para a restauração poder acontecer.
Como estão os ecossistemas do Rio Grande do Sul e como a Rede vai operar para conservá-los?
O Rio Grande Do Sul é caracterizado pela presença de ecossistemas florestais e campestres. Em menor escala, o Estado possui diversos outros tipos de ecossistemas, por exemplo, banhados e áreas úmidas, áreas de afloramento rochoso e dunas. A Rede está aberta, a princípio, para trabalhar com todos os ecossistemas, dependendo muito dos interesses das próprias pessoas que a integram. Mas, inicialmente, vamos focar nos sistemas com maior extensão e onde já temos iniciativas de restauração. Em relação aos campos, é interessante que a restauração pode tanto contribuir para a biodiversidade quanto também para a rentabilidade econômica, como, por exemplo, no caso de áreas infestadas pelo capim-annoni.
O Rio Grande do Sul é o único Estado da Federação onde ocorre o bioma Pampa. De quanto é esse percentual e o dos demais ecossistemas que estão no Estado?
O Pampa, com suas diversas paisagens abertas, ocupa 63% do estado do Rio Grande do Sul. Na sua metade Norte, o Estado faz parte do bioma Mata Atlântica, o que inclui, por exemplo, a mata com araucárias. Ambos os biomas são muito ricos em biodiversidade, mas historicamente, os campos têm sido negligenciados na conservação. Por exemplo, temos muito poucas unidades de conservação na metade sul do Estado.
Como avalia as políticas ambientais instituídas no Brasil e no RS?
Faltam, atualmente, políticas efetivas que promovam a conservação dos ecossistemas nativos, incentivando a sua conservação e valorizando os serviços ecossistêmicos. A perda dos ecossistemas é muito rápida em algumas regiões do Estado. No Brasil, temos visto um enfraquecimento das políticas ambientais, o que é muito problemático para o futuro não só da biodiversidade, mas também das populações humanas.
Quais as consequências para a sociedade se não houver restauração?
Nós dependemos diretamente dos recursos naturais. Utilizamos hoje o termo “serviços ecossistêmicos” para designar todos os benefícios que obtemos dos ecossistemas e a restauração ecológica é fundamental para preservar e recuperar estes serviços em áreas degradadas. Um tema fundamental é o das mudanças climáticas, a restauração ecológica possui um papel importante para aumentar o sequestro de carbono pelos ecossistemas naturais, também nos campos. Sabemos que apenas ações de conservação já não são mais suficientes para manter os sistemas naturais em um nível de funcionamento que garanta a manutenção das bases de vida também das sociedades humanas, precisamos restaurar.
O trabalho da Rede Sul de Restauração Ecológica pode ajudar de que forma a reverter a situação ambiental e recuperá-la?
A Rede vai ser um espaço para diálogo, discussão e divulgação de conhecimento, promovendo atividades de restauração e motivando pessoas e instituições a participarem. Precisamos conectar melhor o conhecimento gerado nas universidades, onde estamos trabalhando com restauração já alguns bons anos, com as demandas e potencialidades dos produtores rurais e unidades de conservação. Também pretendemos, a partir da Rede, apoiar o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas na área de restauração. A ONU declarou a década de 2021-2030 como Década da Restauração Ecológica. Precisamos nos organizar, aqui no Estado, para contribuir e consideramos que a Rede vai ser uma base muito importante neste sentido.
O que as pessoas precisam entender para colaborar com a conservação dos ecossistemas?
A nossa sociedade depende diretamente dos recursos naturais. A qualidade da água que bebemos, do ar que respiramos e do alimento que consumimos depende da qualidade e integridade do meio ambiente. A pesquisa ecológica tem demonstrado claramente que a biodiversidade é fundamental para manter o funcionamento dos sistemas naturais e, com isso, nossa qualidade de vida. Precisamos apoiar sistemas de produção que preservam o meio ambiente e também a qualidade de vida da população rural. A restauração e a conservação dos ecossistemas resultam em benefícios para todos nós.