Renato Teixeira: “A música caipira é atemporal na sua maneira”

Renato Teixeira: “A música caipira é atemporal na sua maneira”

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Foto: Eduardo Galeno / Divulgação / CP


Três dos maiores nomes da genuína música sertaneja, juntos no mesmo palco, para uma releitura dos clássicos que marcaram suas carreiras. Almir Sater, Sérgio Reis e Renato Teixeira perfazem nesta quinta-feira, às 21h, no Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685), o show “Tocando em Frente”, nome de uma música composta por Almir e Renato. Os ingressos para o show estão quase esgotados e podem ser encontrados no site, pelo Call Center 4003-1212, na bilheteria do Teatro do Bourbon Country ou no local, duas horas antes da apresentação. Celebração à música feita no interior do país, o espetáculo proporciona ao público o encontro com músicas como “Romaria” (que abre o show), “Trem do Pantanal”, “Panela Velha’, “O Rei do Gado”, “Frete”, “Chalana”, “Tocando em Frente”, entre outras tantas de parcerias entre Renato e Sérgio e entre Renato e Almir. A ideia da turnê nasceu após o lançamento do primeiro disco de inéditas de Almir Sater em parceria com Renato Teixeira, “AR” (Universal Music, 2016), que ganhou o prêmio de Melhor Álbum Regional ou de Raízes Brasileiras no Grammy Latino. Algumas músicas deste álbum estão no repertório, como “Bicho Feio”, “Peixe Frito”, e “Amor Leva Eu”. Os dois então convidaram para o projeto o amigo Sérgio Reis, que havia gravado com Renato os discos “Amizade Sincera” e “Amizade Sincera II”, em 2010 e 2015.

Porta-voz do trio, Renato Teixeira é um cara incomodado com a tal gênero sertanejo universitário. Ele compôs a música "Rapaz caipira", defendendo a música de raiz e criticando esta música de consumo, trazendo à tona novamente a expressão "música caipira", que batizava nomes do passado como Inezita Barroso, Tonico e Tinoco e o próprio Sérgio Reis. Nesta entrevista, Renato Teixeira fala da gênese do show, dos parceiros, do repertório, da música regional, do RS e da saudade de Inezita Barroso e do seu disco “Danças Gaúchas”.

Correio do Povo: Como foi a gênese da criação de deste show "Tocando em Frente"?
Renato Teixeira: A ideia sempre existiu de alguma forma, mas pelos cursos naturais de nossas vidas e nossas carreiras foi ficando apenas no ar. Nossas parcerias tanto artísticas quanto de amizade foram se mantendo, se ajustando e evoluindo com o passar do tempo, na última década mais especificamente demos uma acelerada. Gravei dois CDs e DVDs com o Sérgio e gravei dois discos com o Almir, trabalhos que foram reconhecidos e premiados. Com todo esse sucesso e com todo o tempo de estrada que temos, aconteceu de forma natural a nossa união como trio no palco, como se fosse óbvio que esse era o próximo passo para as nossas carreiras.

CP: A escolha do repertório parece uma aula de história da música popular do sertão brasileiro. Como se deu a seleção das músicas para este projeto?
Renato Teixeira: Fico contente em ler uma afirmativa destas, porque esse é o objetivo principal do nosso repertório: fazer um resgate à música de raiz do sertão brasileiro, mostrar ao público que ainda existe sim um valor emocional na música brasileira e que a música caipira é atemporal na sua maneira. Além dos grandes sucessos que se tornaram músicas assinatura para as nossas carreiras e marcaram as nossas parcerias ao longo dessas décadas, nós colocamos canções novas, calmas, agradáveis de se ouvir num concerto.

CP: Quem faz o quê neste projeto da concepção ao palco?
Renato Teixeira: Nós três estivemos muito engajados no projeto desde o início, nada foge dos nossos olhos e cada decisão tem que ser dos três, senão não tem nem discussão. Cada um tem o seu ponto forte, cada um tem mais habilidade em algo específico, mas não vale a pena mencionar, porque o "Tocando em Frente" é um trabalho em equipe desde a alma até o show propriamente dito.

CP: Como vocês veem o atual momento da música sertaneja brasileira? Está um pouco maculada por uma questão mercadológica ou é preciso acompanhar os novos tempos e atrair todo o tipo de público?
Renato Teixeira: Não há dúvidas que o momento do sertanejo agora está sendo dominado por uma onda comercial, mais pop, que é o que chamam de sertanejo universitário. Acredito que esse fenômeno seja mais social do que musical e artístico, tem que ouvir bem o que essas canções tem a dizer, prestar bem atenção. Embora eu não ache que exista música ruim, a gente não se identifica com essas canções que estão na moda agora. A música caipira, o sertanejo de raiz não precisa acompanhar os novos tempos, porque é a música que vem da alma, não é à toa que todo mundo canta junto quando tocamos “Romaria” ou “Tocando em Frente”.

CP: Por falar em música regional, o que vocês acham da música regional gaúcha. Gostam de algo aqui do Sul? Têm algumas preferências de grupos e músicos por aqui? Parcerias?
Renato Teixeira: A música regional gaúcha é muito rica, nos ensinou muito e não há sombra de dúvidas que teve muito impacto e contribuiu para os diversos sons tradicionais brasileiros, inclusive a música caipira que defendemos. Não é só a música que tem esse grande valor cultural, mas também o folclore gaúcho. É como se tivesse uma espécie de mágica em todas as artes de origem gaúcha, uma presença que fala por si só e se contagia pelo país inteiro.

CP: E as carreiras pessoais, como vão? Discos, turnês, DVDs, parcerias?
Renato Teixeira: Além do "Tocando em Frente", que é o nosso projeto principal no momento, temos as nossas agendas de show como solistas, que graças a Deus está melhor do que nunca. Quanto a discos, eu e o Almir estamos nos preparamos agora para lançar a segunda edição do “AR”, que deve sair ainda neste ano.

CP: Olhando para o tempo passado, dá saudade de algo que existia na música brasileira e que já não existe mais (alguma música, um tipo de relação com a música ou alguém que já está mais entre nós)?
Renato Teixeira: Essa conversa me fez lembrar de uma saudade específica... A saudade que ficou quando a Inezita Barroso faleceu, alguns anos atrás. Ela é uma artista insubstituível, nunca existiu e nunca existirá outra ou outro igual a ela. O que me fez lembrar foram os dois discos de danças gaúchas que ela gravou nos anos 50 e 60, lembro-me da Inezita dizendo que o “Danças Gaúchas” era o mais importante dela. São discos essenciais para quem gosta de música tradicional - seja ela gaúcha ou não. Que Deus a tenha.

Por Luiz Gonzaga Lopes

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