RS, bom lugar para startups

RS, bom lugar para startups

Márcio Jappe, CEO da Semente Negócios, comenta o cenário atual para startups no Estado

Giullia Piaia

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Até dezembro de 2021, o setor de startups no Brasil somou 8,85 bilhões de dólares em aportes, superando em quase três vezes todo o ano de 2020, que fechou em 3,65 bilhões de dólares. Boa parte desse volume foi direcionado para negócios do Rio Grande do Sul. Segundo o StartupBase, há atualmente mais de 13,8 mil startups no Brasil, sendo que mais de 970 delas são gaúchas. Márcio Jappe, CEO da Semente Negócios, empresa que se dedica à aprendizagem empreendedora, que atua alavancando o desenvolvimento de iniciativas inovadoras, comenta o cenário atual para startups no Estado.

Como surge uma startup? A que critérios deve obedecer para entrar nessa categoria?

Startups são comumente confundidas com empresas de tecnologia. Ainda que a grande maioria tenha um componente tecnológico importante, startups são organizações temporárias em busca de um modelo de negócio inovador viável. Ou seja, ainda não são empresas, mas, assim que encontram o modelo de negócio viável, se tornam empresas em crescimento. Lembrando que inovar é resolver problemas reais, com soluções de mercado, em contextos com altos níveis de incerteza.

Em resumo, para o surgimento de uma startup, basta haver um problema importante que precisa de uma solução inovadora, com um grau de incerteza relevante. A incerteza pode estar na solução, na forma de comercialização, no público-alvo ou em outros elementos do modelo de negócio.

Como é o cenário atual das startups no Estado? De que forma ele foi afetado pela pandemia?

O Rio Grande do Sul é um dos melhores estados para se buscar a validação de uma startups. Há programas de aceleração, há investidores, há mão de obra qualificada e, mais recentemente, diferentes iniciativas governamentais para o incentivo ao empreendedorismo inovador, seja pela simplificação da legislação, seja por outras políticas específicas.

A pandemia sem dúvidas afetou negativamente a saúde física e mental da população, além de ter impactado negativamente a economia. No entanto, este cenário favoreceu organizações que conseguem lidar melhor com cenários de incertezas, dificuldades e limitações de recursos, ou seja, quase a própria definição de uma startup.

O mercado gaúcho é um bom ecossistema para esse tipo de organização? Quais oportunidades se apresentam por aqui?

Como dito, o mercado gaúcho é um dos mais promissores e um dos que mais cresce no Brasil, sendo o terceiro maior ecossistema no país. O Estado possui 27 polos tecnológicos, 28 incubadoras e 21 parques tecnológicos, segundo Atlas Econômico. O setor de parques tecnológicos emprega mais de 10 mil pessoas em cerca de 300 empresas. Isso porque há programas de aceleração, há investidores, há mão de obra qualificada e iniciativas governamentais para o incentivo ao empreendedorismo.

Em que área se concentram as startups gaúchas? Elas costumam trazer grandes inovações?

A Capital é a que conta com um ecossistema mais ativo economicamente, concentrando 16,9% do PIB do Estado, seguido de Caxias do Sul com 5,4% do PIB, que, mesmo com o segundo maior PIB da região, fica em 10ª colocação em número de startups, segundo o RS Tech \[estudo feito pelo Instituto Caldeira e pela plataforma de inovação Distrito\] sobre o ecossistema do Estado. Há startups gaúchas nos mais diferentes segmentos: existem múltiplos bons exemplos, tais como Rocket.chat, Warren, CheckPlant e Aegro, entre outras. Isto acontece porque, mesmo sediadas no RS, os mercados que estas startups atendem são nacionais e internacionais. Destaco o crescimento das healthtechs, empresas com soluções voltadas para a saúde e que, ainda segundo o report da Distrito, representam 11,5% do total de startups do Estado, seguida por martechs \[empresas que unem marketing e tecnologia\] (9,4%) e retailtech \[empresas que oferecem soluções tecnológicas voltadas ao varejo\] (9,1%).

Onde as startups buscam investimentos?

No que tange à busca por investimento, há desde familiares e amigos, “investidores-anjo” cada vez mais profissionalizados, iniciativas de crowdfunding, investidores de risco e linhas tradicionais de crédito no mercado financeiro. Se houver um modelo de negócio razoável para ser testado e uma equipe capaz de executar competentemente o necessário para testar e validar o modelo, os recursos financeiros não deveriam ser o gargalo.

Um conselho para quem quer entrar no mercado das startups.

Um dos conselhos que não canso de repetir para quem quer se aventurar liderando o processo de validação de uma startup é que se apaixonem pelo problema a ser resolvido, não pela solução que vocês estão propondo. Via de regra, o interesse genuíno e o entendimento profundo do problema a ser resolvido são muito melhores para perseverar que a paixão pelo seu produto ou ideia.


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