Thomas Lebrun: “O importante é que o público viaje no tempo e sinta diferentes emoções”

Thomas Lebrun: “O importante é que o público viaje no tempo e sinta diferentes emoções”

publicidade

dialogos Lebrun traz espetáculo a Porto Alegre nesta sexta. Foto: Luc Lessertisseur / Reprodução / CP


Pela primeira vez no Brasil, o transgressor Lied Ballet, criado pelo coreógrafo Thomas Lebrun, aborda uma forma de dança livre, que aceita diferentes influências e abre infindáveis possibilidades e desafia os conceitos fechados de clássico e contemporâneo, de preciso e abstrato. As apresentações que integram a programação do FranceDanse Brasil 2016 começaram nesta quarta, no Rio de Janeiro, e seguem nesta sexta,  às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Tulio de Rose, 80, 2º andar), em Porto Alegre e na terça, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Ingressos na bilheteria do Teatro do Bourbon Country (sem taxa), pelo site ou pelo Call Center: 4003-1212 (com taxas).

O espetáculo, apresentado em três atos, une duas grandes referências do período romântico em roupagem atual: o Lied, palavra de origem alemã e de gênero neutro, que representa a música erudita cantada sobre poema estrófico, e o Ballet. Os temas românticos Lieder são transformados em movimento, com oito dançarinos apresentando uma escrita coreográfica que começa com mímica e termina em abstração. No final, tudo se conjuga em um grande coro desafiando gêneros e categorias, expressando fundamentalmente a confiança do artista no corpo dançante.

Thomas Lebrun foi bailarino para coreógrafos como Bernard Glandier, Daniel Larrieu, Christine Bastin, Christine Jouve ou Pascal Montrouge, Em 2000, fundou sua companhia de dança (Companhia Illico). Entre 2002 e 2004, ele o primeiro artista associado ao Vivat d’Armentières antes de se associar ao Choreographic Development Center of Dance à Lille, entre 2005 e 2011. Desde 2012, Thomas Lebrun é o diretor do centro coreográfico Nacional de Tours. Convidado para a 68ª Festival d"Avignon, em julho de 2014, ele concebeu Lied Ballet, uma peça em três atos para oito bailarinos, um tenor, e um pianista. Nesta entrevista ao Correio do Povo, o coreógrafo francês fala sobre esta criação, a música clássica e o ballet, além dos seus mestres e as suas experiências com o Brasil e os dançarinos brasileiros:

Correio do Povo: Qual a mensagem desta criação coreográfica Lied Ballet?
Thomas Lebrun: Esta criação é basicamente sobre um conceito simples que trouxe a uma escrita coreográfica complexa: a reunião (ou confluência) de duas grandes formas românticas: o Lied alemão e o ballet. O importante para mim com esta proposição coreográfica é que o público viaje através do tempo e sinta diferentes emoções.

CP: O que significou para você coreografar algo que tenha um grande peso histórico?
Thomas Lebrun: Pela nossa proposição, o tema principal não é o romantismo alemão, mas sim a História e os diferentes ramos da dança contemporânea sob uma forma mais clássica.

CP: A música clássica nem sempre é associada com a dança contemporânea. Por que é tão importante esta criação coreográfica conjugando ballet, música clássica e poema estrófico?
Thomas Lebrun: Oh... Os grandes coreógrafos contemporâneos têm se voltado mais a ballets famosos, como “O Lago dos Cisnes” ou “Gisele” com a música clássica utilizada assim... A diferença em Lied Ballet é que eu não estou trabalhando em um ballet existente, mas estou utilizando uma parte da apresentação dos Lieder como suporte musical e seus textos como amparo da partitura: por isso não há histórias, mas muitas pequenas viagens. Depois, há também música contemporânea, como uma canção original criada por David François Moreau para o ato 3, com base em uma orquestração dos Lieder, seguindo a idéia de uma música minimalista repetitiva.

CP: Qual a contribuição dos dançarinos para a solidificação da linguagem deste Lied Ballet?
Thomas Lebrun: Eles contribuem com uma frase coreográfica cada um: uma frase é trabalhada e conduzida por uma sentença Lied. Então eu digo que gostaria de retrabalhar com eles ou reconstruí-la, dando-lhe uma nova musicalidade ou uma nova cor. Essas frases coreográficas são mais visíveis no segundo ato. Para o resto do trabalho, eu escrevi a coreografia sozinho!

CP: Roger Garaudy em “Dançando a Vida” ("Dans La Vie"), disse que "a dança é para viver e expressar, com a intensidade máxima, a relação do indivíduo com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com os seus deuses". O que Thomas Lebrun tem a dizer sobre esta declaração e que é a dança para você?
Thomas Lebrun: Sobre esta sentença, digo que eu me encontrei em alguns aspectos nesta coreografia, principalmente a emoção, compartilhamento, prazer, intensidade, honestidade, verdade, força e diversidade.

CP:  Quem foram ou são seus mestres na dança?
Thomas Lebrun: Todos aqueles que me ensinaram, que compartilharam comigo, aqueles com quem eu continuo compartilhando até hoje.

CP: E sobre os bailarinos e coreógrafos brasileiros? Você trabalhou com alguém? Você acompanha a cena brasileira?
Thomas Lebrun: Eu trabalhei com Grupo Tapias, no Rio de Janeiro, em 2009. Eu também criei um solo em 2010 dentro do Festival d"Avignon para o bailarino gaúcho Alexandre Bado, natural de Porto Alegre. No entanto, eu confesso que eu não sei muito bem como anda a cena coreográfica brasileira, exceção feita aos grupos que vão se apresentar na França.

Por Luiz Gonzaga Lopes

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895