Consistência

Consistência

Abro a literatura e ela abre os vidros, ventila os cômodos, questiona os incômodos, apresenta-me uma teia de personagens e, dentro delas, outra teia de subjetividades.

Alina Souza

68ª Feira do Livro de Porto Alegre acontece na Praça da Alfândega, de 28 de outubro a 15 de novembro.

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Leio, mas desejo ler muito mais. Ler até transbordar. Palavras. E também silêncio. Às vezes quero fugir do caos, do agito. Ser toda dos livros. Fecho-me em um cantinho para abrir pensamentos profundos. Abro a literatura e ela abre os vidros, ventila os cômodos, questiona os incômodos, apresenta-me uma teia de personagens e, dentro delas, outra teia de subjetividades. Organizo meus traços — me refaço. Enquanto o mundo parece volátil, vaporoso, veloz, vazio, a leitura preenche, escava, traz tijolos e argamassa. Uma obra literária suporta ventania e indiferença, constrói poesia e consistência. Eu poderia enumerar vários motivos para tal índice construtivo, mas não cabem todos aqui. Um deles: a leitura requer coragem de ficar diante de si. Este exercício faz sentir melhor o instante e as gotas de chuva na janela. A leitura desacelera. Por isso, recomendo uma visita à Praça da Alfândega nestas primeiras semanas de novembro. Nela, estarão os heróis feitos de páginas e capas, que lutam, sem alarde, contra as ameaças da superficialidade.


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