Desequlíbrio
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O sol não quis dar-se por vencido. Vieram nuvens, densas gotas, mas, ainda assim, ele insistiu, forte, carregado de exagero, como em resposta a alguma ferida aberta pelo sufoco da atmosfera poluída, rasgada em sua última camada. Nestes rasgos, os raios solares perpassam, ardentes, irritados. Secam a paisagem, deixam marcas, persistem na tentativa de alerta. A sociedade sente os reflexos, porém nem sempre compreende o grito da natureza. Muitos ignoram o aviso de desequilíbrio, deslocam-se sozinhos em suas cápsulas emissoras de poluentes até o mercado da esquina, deixam a lata de refresco abandonada na grama da praça como se o lixo pudesse simplesmente evaporar-se em segundos, atiram a bituca do cigarro na vegetação já tomada de calor e depois se perguntam por que a mata de repente incendiou. O aquecimento se condensa, transpira, vira temporal. Intenso, breve, insuficiente para abrandar a sensação febril que lateja na cabeça do mundo, sintoma de uma perigosa inflamação no corpo cansado (porém obstinado) do meio ambiente.
Texto e fotos: Alina Souza