Floração

Floração

Sei que o manejo arbóreo dá trabalho, mas o concreto sozinho sufoca. Vale a pena sentir o afago das flores em nossos passos.

Alina Souza

Rua Marquês do Pombal, Porto Alegre

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Sugeriram-me fotografar estes tapetes dourados na rua Marquês do Pombal, em Porto Alegre. Gestos de despedida da primavera. Um verão ansioso bate à porta. O que estas pétalas pelo chão tem a me (a nos) falar? A princípio, pensei sobre a possibilidade de causar escorregões, além de despertar a rinite. Depois, rendi-me à beleza, abandonei o mau humor. Logo adiante, enquanto um trabalhador varria as flores, um transeunte lhe comentou: “não recolha, elas são bonitas!”. O trabalhador respondeu: “é para dar espaço para as novas”. Hum, não entendi o argumento, mas segui a via colorida, disposta a observar a natureza cobrindo o cinza das calçadas e do asfalto. Entre o verde e o amarelo, o calor arrefeceu. O ar ficou mais leve; a realidade, menos dura. Sei que o manejo arbóreo dá trabalho, mas o concreto sozinho sufoca. Vale a pena sentir o afago das flores em nossos passos. Tanto as incipientes que caíram mais cedo devido ao vento, quanto as experientes e sábias desprendidas pelo tempo. Importa a vida, em partículas mínimas ou máximas, em todos os seus sentidos, em todas as suas manifestações.


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