Interpretações

Interpretações

Alina Souza

Espelho.

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Cheguei ao centro e percebi que algo brilhava em meio ao tédio de um terminal de ônibus, indicando uma segunda realidade um tanto peculiar, nem por isso incoerente. Uma perspectiva menos sóbria, mais sensível. De um lado, o quadro intacto; de outro, a paisagem urbana entrecortada, interrompida. O morador em situação de rua ficou orgulhoso que uma fotógrafa de jornal de repente se encantara com o adorno na parede de sua casa improvisada. Comecei a refletir diante deste lado trincado, às vezes também quebrado, das cenas vistas todos os dias. Dependendo da posição do olhar, as fissuras se mostravam discretas, quase imperceptíveis. Porém, ao aproximar-me do espelho, mirá-lo de baixo para cima, encontrei as linhas que transformavam a composição real em um mosaico de interpretações. Será que tudo se conecta ou, no fundo, o mundo está partido? Por outro lado, será que enxergamos rachaduras onde a vida caminha plena e concisa? E, por fim, mas não menos importante: Será que estamos vendo a nossa imagem fiel ou uma representação distorcida?

Texto e fotos: Alina Souza

 

 


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