Partes delicadas

Partes delicadas

Alina Souza

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As esquinas são pontiagudas. Temos o direito de ficarmos tristes. É inevitável quando vivemos de verdade; quando desligamos as máquinas, despimos os artifícios e sentimos o silêncio do nosso íntimo. Um silêncio ruidoso, com notas dissonantes, mas inteiramente puro, visceral. Às vezes pensamos que estamos sozinhos nessa dor de atravessar o eco indizível e, não, há muita gente tentando lidar com suas próprias veredas. É normal abaixar a cabeça e deixar brevemente o mundo para trás. Dói assumir que existem partes frágeis, delicadas. Esta percepção torna-se o próprio ato de coragem. Resgatamos potência ao ficarmos diante dos nossos objetos de porcelana, pedaços de vidro, espelhos. Só assim nos reerguemos mais firmes e humanos. Não iremos perder independência se juntarmos o nosso olhar ao olhar de outra pessoa e, desta forma, compreendermos o caminho com perspectivas mais amplas. No processo de ajuda, tocamos a película que nos conecta e redesperta. Não, não é fraqueza. É pulsão de vida gritando forte.


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