Piscina-oceano

Piscina-oceano

Alina Souza

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A felicidade dessa senhora era tão pura que, por segundos, consegui esquecer de tudo que se amontoava na minha mente. Estávamos no Centro Comunitário Vila Ingá (Cevi) para acompanhar a  abertura de piscinas públicas em Porto Alegre. Abafamento total, pingos de chuva se misturavam com as gotas de suor e com a água ali reservada para refrescar o corpo e aliviar a alma. As mulheres aproveitavam o intervalo da hidroginástica para flutuar, mergulhar, sentir a vida branda, os minutos soltos. Os sorrisos emergiam na superfície fluida dos rostos, estendiam as dimensões do instante, transformavam a pequena fatia líquida em oceano. Olhos fechados, concentrados em sentir a energia toda dentro de si, afinal, o lado de fora não passa de uma extensão, como poças para onde refluem nossa correnteza. Olhos fechados, sorriso gigante e o esquecimento da pose. O ser humano se liberta quando deixa vazar a sua naturalidade pelos poros e dissolve o medo dos julgamentos. E a alegria, aquela menina tantas vezes tímida, amadurece, respinga, vem à tona. Transborda.


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