Reverberações

Reverberações

O instante sozinho não existe, deixamos desenhos pelo caminho.

Alina Souza

Triplamente pássaro.

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Eu poderia dizer que é somente um pássaro em seu voo rasante sobre o mar, mas há muito mais implícito na imagem. Sempre existe mais quando nos dispusemos a enxergar para além da realidade imediata, do primeiro plano. Existe o reflexo. A sombra. Nossos ecos. Todo ato reverbera no tempo e no espaço, como uma onda sonora que se propaga, como uma segunda imagem que vem logo atrás. Como um arrepio. Bater asas e voar parece fugaz, porém afeta, altera a superfície, toca, transporta memórias e constrói outras novas. O instante sozinho não existe, deixamos desenhos pelo caminho. Em nós, há também os desenhos que o universo nos deixou  e nos deixa dia a dia. As diferenças, gritantes à primeira mirada, são frações de vidros que, juntas, montam espelhos. Através das diferenças, nos reconhecemos. Conscientes das várias camadas, avançamos altivos entre os elementos do infinito. Jamais sós: acompanhados de projeções, flexões de histórias, ora enevoadas, ora nítidas. Ao nos perguntarmos “quem somos?”, a própria trajetória trará a nossa personalidade refletida.


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