Porto Alegre na visão de Saint-Hilaire

Cidade de Porto Alegre

A Largos Traços - Situado á margem de um rio que se estende até ao mar, podendo, ao mesmo tempo, communicar-se com o interior por meio de alguns rios navegaveis, que desembocam em frente ao seu porto, Porto Alegre deverá tornar-se necessariamente, dentro de pouco tempo, rica e fluorescente.

Porto Alegre, 26-7-1820 

Auguste de Saint-Hilaire

Como se vê, as linhas que se lêem acima foram escriptas pelo naturalista francez Auguste de Saint-Hilaire, autor da “Flora brasillae meridionais” em 1820, aqui mesmo em Porto Alegre, onde esteve elle por duas vezes e onde conquistou algumas amizades, inclusive a do conde da Figueira, que era, então, o governador da Capitania. Cem annos! parza a vida do homem, um seculo constitue uma edade bastante avançada, que só muito poucos conseguem alcançar, mas, para a existencia de uma cidade, como a nossa, é ainda um tempo insuficiente para a sua organisação definitiva. O nosso porto, desde que começou a ser utilizado até hoje, passou por pequenas e grandes transformações, algumas das quaes bem importantes e necessarias, conforme as exigencias do progresso de cada epoca. Primitivamente era elle todo circumdado de mattaria alta e luxuriante, onde não faltavam, naturalmente, o angico, o camboim, o camboata, o ingazeiro e outras arvores que ainda hoje se notam ás margens do Jacuhy. Ahi, dando acesso ao rio, existiam umas estreitas aberturas, onde eram amarradas as canôas dos pescadores. Depois, era a praia aberta, onde atracavam sómente pequenas embarcações, sendo que as de mais calados ficavam fundeadas ao largo. Mais tarde, e successivamente, vinham surgindo os trapiches e os estaleiros, dando estes um aspecto alegre e de trabalho ao nosso littoral. Era periodo aureo dos carpinteiros da ribeira. Em seguida foram construidas a famosa ponte da alfandega, que era, aliás, muito bem feita e solida, e as docas. A ponte, que terminava justamente onde se acha agora o edificio dos Correios e Telegraphos, as docas e varios trapiches já desappareceram com a construcção do novo cáes, obra notavel de vultuosas proporções, e que muito concorrerá para o embellezamento da capital, ficando esta, assim, dotada de um porto de primeira ordem. Servirá também para relembrar ás gerações vindouras esta época que vamos atravessando, toda força de acção e de vida, reflectindo-se tudo isso, bem-se-vê, no governo do illustre dr. Borges de Medeiros, que foi o inspirador e que é a alma de tão grande empreendimento. Nicoláo Drys, na sua “Noticia descriptiva da Provincia do Rio Grande de S. Pedro do Sul”, publicada em 1839, diz que “ha pouco mais de 60 annos, a area occupada por esta sumptuosa cidade era ainda selvagem, coberta de mattos, asylo ordinario das feras.” Mas demos que esta terra, a contar de hoje, fosse “asylo ordinario das féras”, não ha 142 annos, e, sim, ha 160, ou, mesmo, ha 180 annos. comparativamente á existencia das cidades européas e ao seu progresso, esse numeros de annos não representam um largo espaço de tempo. Póde-se affirmar que, dentro de um seculo e de alguns annos, Porto Alegre, transformando-se por etapas e encontrando-se nestas os vestigios da vida anterior, veiu a, ser o que é hoje: um grande centro de actividade e de intensa civilização, possuindo tudo quanto uma cidade moderna e adeantada póde ter. Já em grande desenvolvimento, temos a agricultura, a industria, o commercio, a navegação e as estradas de ferro. 

Artigo publicado na edição
de 8 de março de 1921

A grafia da época está preservada nos textos acima

CRONOLOGIA

O dia 26 de março na história
1772 - Fundação de Porto Alegre, com a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais.
1827 - Morre o compositor alemão Ludwig Beethoven.
1903 - Oswaldo Cruz assume a direção da Saúde Pública do RJ.
1944 - Nasce a cantora Diana Ross. 
1991 - Formação do Mercosul por países da América do Sul.