A violência no futebol foi banalizada

A violência no futebol foi banalizada

Casos seguem acontecendo, como no último Gre-Nal, e todos parecem acostumados

Carlos Correa

Confusões entre os jogadores no Gre-Nal viraram uma rotina do clássico

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Carlos Corrêa / Interino

Em 12 de março de 2020, o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte por Covid-19 no Brasil. O país inteiro assistia assustado àquilo, sem saber que a coisa ia piorar ainda muito mais nos meses seguintes. Aquela primeira morte foi marcante. A 50ª, a 125ª, a 1039º e a 499.428ª também deveriam ter sido, mas depois de um certo tempo, as tragédias vão perdendo impacto. Não deveriam, mas perdem, porque a coisa começa a banalizar.

Quando algo ruim acontece a primeira vez, nos chocamos. Na segunda menos, lá adiante vira mais um caso. Seguimos sentindo, mas é como se não fosse mais surpresa. A violência no futebol chegou a um ponto em que os absurdos se repetem tanto, semana após semana, que testemunhamos os novos casos, suspiramos, reviramos os olhos, e pensamos “aff, de novo”. Talvez isso explique porque alguns acontecimentos do Gre-Nal do domingo passado tenham sido registrados, mas não com uma condenação mais incisiva, como teria sido se fosse a primeira vez. A única exceção talvez tenha sido o absurdo caso de importunação sexual feito pelo homem que veste a fantasia do Saci. E ainda assim, aposto um café que fosse em outro jogo que não o Gre-Nal e o caso teria causado muito mais indignação e revolta. Afinal, sabemos que em tudo que envolve Inter e Grêmio a indignação é seletiva.

Mas os casos não param por aí. Torcedores deixaram o estádio com traumatismo craniano depois de terem sido atingidos por cadeiras arremessadas pelos rivais. É inadmissível. Ou melhor, deveria ser, já que na prática isso acontece em todo Gre-Nal e nada indica que há lugar para se ter esperança que isso mude. Dentro de campo é a mesma coisa. Na eliminação colorada no ano passado, os jogadores envolveram-se em uma briga generalizada com os adversários. Foram julgados e punidos com seis jogos. Assim que o campeonato deste ano começou, houve uma revisão da pena, que foi reduzida para dois jogos. A violência é sempre banalizada no futebol. Sempre haverá alguém, ou melhor, uma porção, disposta a relativizar os casos não porque tem um determinado ponto de vista sobre ele, mas sim porque ele envolve diretamente o seu clube.

Peguemos um caso de fora do Estado. O ataque covarde por parte dos torcedores do Sport ao ônibus do Fortaleza, semana passada, em um jogo pela Copa do Nordeste. Não há limite que não tenha sido ultrapassado ali. Foi tentativa de assassinato. E até agora nada aconteceu. Quando o Grêmio foi - corretamente - excluído da Copa do Brasil por cânticos racistas, houve quem achasse que seria um exemplo de que as torcidas não podem achar que têm direito a fazerem o que bem entendem. Já deu pra ver que não.

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