Arena: a carta de Koff

Arena: a carta de Koff

"Proponho a mesma estratégia usada anteriormente: os credores receberem os valores acordados em outubro de 2014"

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Foi lançado no dia 14 de março de 2016 o livro “Fábio André Koff-Memórias e Confidências”.
Com +depoimentos dados a Paulo Flávio Ledur e Paulo Silvestre Ledur.
A editora escolhida foi a a AGE.
Na época este blogue divulgou alguns capítulos.
Um deles sobre a Arena.

Mudança de Estratégia:

Já sob a Presidência de Romildo Bolzan Jr., os negociadores contratados pelo Grêmio adotaram a estratégia de falar diretamente com os bancos, que eram os maiores interessados. A primeira investida foi muito difícil, porque alguns dos bancos envolvidos no caso adotam a política de não fazer negócios com clubes de futebol, entre eles o Santander e o Banco do Brasil. O outro envolvido é o Banrisul, mas este faz negócios com o futebol.

Aos poucos, os consultores gremistas começaram a mostrar para eles que era uma questão técnica e que o Grêmio não queria ganhar dinheiro; queria apenas realizar o que fora negociado em outubro. Daí houve avanço.

Enquanto isso, a OAS estabilizou um pouco sua situação, mas a complexidade do negócio aumentou: já eram oito organizações envolvidas: Grêmio, OAS, Santander, Banco do Brasil e Banrisul, que são os repassadores; Bradesco, que deu uma carta-fiança para honrar os pagamentos da OAS; BNDES, que repassou o dinheiro desse empréstimo; e Caixa Econômica Federal, que no passado pagou 300 milhões de reais à OAS para entrar em todo o projeto. A caixa comprara 80% das ações da Caragonis, que pertencia à OAS, isso em 2009.

O Presidente Koff avalia:

– Com o dinheiro da Caixa, do BNDES e de debêntures emitidas depois, a OAS fez o estádio sem tirar um tostão do bolso. A Caixa é dona de 80% desses empreendimentos que estão surgindo na volta da Arena. Por isso, quando se voltou a negociar, a Caixa foi colocada no jogo, porque era parte interessada.

Como a OAS está em recuperação judicial, uma das premissas do Grêmio nessa negociação é que a compra da Arena tem que ser aprovada na assembleia dos credores da OAS, porque, se os credores aprovam, o Grêmio fica livre de sucessão. Mas se isso não ocorrer, eles terão que achar outra forma. Os oito envolvidos já concordaram, mas ainda não assinaram.

Em maio de 2015, preocupado com o assunto, o Dr. Koff, mesmo hospitalizado, recém-saído da UTI, elaborou uma correspondência dirigida ao André Berg à qual anexava uma mensagem aos credores da Arena que pedia fosse lida quando da primeira reunião a ser realizada. A carta foi entregue por seu filho, não na condição de filho, mas de conselheiro do clube. Nessa carta ele relacionava o episódio com os cavalos que os colonos amarravam no espaço do varejo de seu pai, em Garibaldi, mas iam comprar em estabelecimento concorrente: No parking, no business. Ao receber a carta, Berg exclamou: – Não acredito! O Presidente Koff recém-saído da UTI me mandando esta carta! Que garra! Que determinação! Que nível de comprometimento! Segue a carta na íntegra:

Porto Alegre, 26 de maio de 2015.
Caro André:

Peço-te o especial favor de, no momento oportuno, na próxima semana, quando o Comitê de bancos Credores da Arena estiver reunido com os nossos negociadores, ler a carta anexa à presente. Muito obrigado pelo teu esforço e dedicação.
Fábio André Koff
Porto Alegre, 26 de maio de 2015.
Ao Comitê de bancos Credores da Arena Porto-Alegrense nesta Capital

Prezados Senhores:

Impossibilitado de participar das reuniões em andamento, por motivo de força maior, manifesto minha visão e entendimento do assunto.

Inicialmente, registro a legitimidade dos pleitos por parte das instituições que vocês representam na defesa dos interesses de acionistas, depositantes e da própria harmonia econômico-financeira que acima de tudo deve prevalecer, pelo respeito aos contratos, com seus direitos e obrigações.

Nesse particular, entendo que o Grêmio deve honrar o contratado em outubro de 2014, quando se concluíram as negociações que me motivaram a declarar que “a Arena era de propriedade do Grêmio e de nossos filhos e netos”, já que antes eu afirmara que “a Arena não era do Grêmio”.

Essas declarações refletiam exatamente a foto do dia.

Voltando ao tema principal: “obrigações devem ser respeitadas”, quero dizer que direitos também. nesse particular, no meu entendimento – os contratos espelham essa realidade –, meu clube, a quem devo muito, não recebe o que comprou.

Estão ausentes todas as obras externas nos acessos e principalmente falta a essência comercial futura, o estacionamento.

Milhares de torcedores com seus carros em lugares de difícil acesso, escuros, perigosos, enlameados, etc., etc.

Não se trata apenas do valor econômico. implica, também, a parte estratégica, já que sua inexistência inviabiliza a venda de cadeiras tipo gold e camarotes.

A falta dessas receitas inviabiliza o próprio equipamento. Já é uma tarefa hercúlea ter foco no futebol, atividade historicamente deficitária.

Agregar um fardo adicional, pela limitação que a ausência do parking vai causar no atendimento de um tipo de consumidor que exige esse serviço, vai gerar grandes perdas financeiras e patrimoniais.

No exercício da Presidência na gestão anterior e Vice na atual, responsável por esta negociação, somos fiéis depositários da esperança de milhões de torcedores, e honrar essa responsabilidade é nossa obrigação.

Para esses efeitos, quero expor uma alternativa que pode atender de forma ética e equilibrada os interesses de todos, porque, de fato, neste momento, o Grêmio é o único apto a cumprir o acordado.

Proponho a mesma estratégia usada anteriormente: os credores receberem os valores acordados em outubro de 2014.

Nesse caso, os bancos aqui presentes criem uma conta vinculada e retenham 20% dos valores que o Grêmio depositará mensalmente. Estes serão aplicados no mercado financeiro para não perderem valor e serão disponibilizados apenas e somente para a recomposição do estacionamento e das obras prioritárias externas pendentes, que os senhores podem decidir em conjunto, sobre forma, lugar, quem, como, por que, quando, etc., etc.

Sei que todos estão contabilizando perdas. Nós também, como:

– receber obra inferior à contratada;

– assumir um negócio deficitário;

– ter que viabilizar o clube e seus financiadores, que projetaram uma Arena cheia e plena, contribuindo para reforçar nossos orçamentos, e se deparar com a realidade dura de colher outra fonte de pressão de caixa;

– ter que praticamente abdicar da nossa missão que é ganhar títulos e substituir por outra: “honrar compromissos”.

Sou muito ligado a pensamentos consagrados. Existe um dito popular na América do norte: No parking, no business. nada mais adequado. Espero que vocês entendam esta posição e que encontrem a solução, que não necessariamente deva ser a sugerida, mas que tenha no seu escopo esta linha de pensamento.

Êxito e sucesso a todos, são meus votos.

Fábio André Koff

 


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