Como as elites dominaram o Povo do Clube e conseguiram poder

Como as elites dominaram o Povo do Clube e conseguiram poder

“A primeira fala da reunião, porém, foi de Ivandro Morbach, que, afirmando falar em nome próprio, em evidente recurso retórico, pois ninguém desvincularia a sua manifestação à posição do movimento, defendeu um aumento à taxa de 10%”

Hiltor Mombach

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Vários integrantes do movimento o Povo do Clube assinaram manifesto onde relatam perseguição. Seguem trechos do relato da doutora Cristina Dornelles, bióloga, bacharel em genética, especialista em bioquímica e mestre e doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Parte foi editada, adaptada ao espaço da coluna:

A ELITE E OS CARGOS

Primeiramente, a elite diretiva do Povo do Clube se cristaliza exatamente nas pessoas que hoje ocupam cargos diretivos na gestão do Inter. Os nomes não foram escolhidos coletivamente, como era a prática do movimento. Não por acaso são as pessoas que já em 2020 defendiam o apoio à eleição do Alessandro Barcellos, que, dada a intimidade, era chamado de Alessandro e, posteriormente, após a formalização da chapa para a eleição de 2023 foi tratado pelo carinhoso apelido de “Aleba”.

Desde o começo do ano de 2023 havia a indicação da composição de uma chapa com três integrantes do Povo do Clube para o Conselho de Gestão, com José Amarante concorrendo à presidência. Alguns integrantes do movimento já apontavam internamente a estratégia de levar esse discurso em frente durante algum tempo, por conta do fraco desempenho do futebol, que tornava desinteressante a aproximação com a gestão, e, na proximidade da inscrição das chapas, fazer-se o anúncio de uma grande coligação, a fim de evitar o retorno do Movimento Inter Grande/MIG ao poder.

A VERDADEIRA HISTÓRIA

Essa hipótese foi veementemente negada pela “elite”, mesmo quando o excelente repórter Cristiano Silva deu a notícia no programa Ganhando o Jogo. Na ocasião, quando o integrante Rodrigo Navarro cobrou uma resposta, foi violentamente atacado, sendo chamado de tumultuador conspirador e outros adjetivos mais pesados.

GOELA ABAIXO

Às vésperas da inscrição das chapas, no dia 23 de setembro, às 21h, foi convocada uma assembleia emergencial do movimento para o dia seguinte, um domingo à noite, com a participação de José Amarante, o qual anunciou a desistência de concorrer. Ali já estava acertada a indicação do Ivandro Morbach (Latino) para o CG e, por certo, os nomes que integrariam as vice-presidências e demais cargos na gestão também já tinham sido escolhidos. Ou seja, tudo aconteceu ao arrepio do debate coletivo.

DEFENSOR DO AUMENTO

É importante fazer uma referência a um episódio anterior, ocorrido na reunião do Conselho Deliberativo que aprovou o aumento das mensalidades sociais. Logo antes dessa reunião, o Povo do Clube publicou nota oficial afirmando que votaria em bloco contra o aumento. A primeira fala da reunião, porém, foi de Ivandro Morbach, que, afirmando falar em nome próprio, em evidente recurso retórico, pois ninguém desvincularia a sua manifestação à posição do movimento, defendeu um aumento à taxa de 10%, que acabou sendo aprovado. Não há dúvidas que esse acordo já havia sido feito com a gestão e, vindo do Povo do Clube, a chance de aprovação aumentaria substancialmente.

O presidente da mesa, Sérgio Juchem, quis dar o caráter de decisão por aclamação. Quatro conselheiros do Povo do Clube (Altemir Olivera, Luiz Cláudio Portinho, Rodrigo Navarro e Sandro Luis da Silva) votaram contra.

AFASTADOS SEM DEFESA

No último dia 11 de janeiro, poucos dias após a posse da nova gestão, foi convocada uma assembleia do Povo do Clube, que, sem incluir essa deliberação na convocação, afastou liminarmente cinco integrantes, sem direito à defesa e sem instauração de procedimento ético-disciplinar, sob a alegação de terem adotado condutas contrárias aos interesses do movimento antes e durante a campanha eleitoral, sendo que tais condutas eram nada mais do que questionamentos a práticas da elite diretiva, com as quais não concordavam.

PAUTADOS PELA ÉTICA

Devemos satisfação e prestação de contas do mandato no Conselho Deliberativo. Nada a tem a ver com ego, insatisfação por derrotas em debates coletivos ou qualquer outro recurso narrativo apresentado pela elite diretiva do Povo do Clube e seus seguidores. Fosse assim, o procedimento teria sido encaminhado antes da eleição. O tempo foi determinado exatamente para não haver prejuízo à campanha, considerando que nós, ao contrário de muitas pessoas no Povo do Clube, pautamos nossas condutas pela ética e pela lealdade, que adotamos sempre, mesmo com quem não faz por merecer.


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