Daniel Alves e o machismo no futebol

Daniel Alves e o machismo no futebol

Ambiente nos estádios mostra que a luta contra o machismo está longe do fim

Carlos Corrêa

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Carlos Corrêa / Interino

Nessas últimas semanas, uma reclamação tem sido constante, principalmente nas redes sociais. Não é uma ponderação exclusiva das mulheres, mas elas são a imensa maioria. E elas estão corretas quando questionam: "Por que vocês homens falaram muito mais sobre o Daniel Alves quando ele foi convocado para a Copa do Mundo do que agora, quando ele é acusado de estupro"? Quisera a explicação fosse muito mais complexa e cheia de nuances, mas a verdade é que, a grosso modo, a resposta é uma só: o futebol ainda é um ambiente predominantemente machista. E nem faz muita questão de disfarçar.

Quando pequeno, eu ia ao estádio levado pelo meu tio, junto dos meus primos. Não tinha idade para entender, mas ainda assim achava estranho a razão pela qual toda e qualquer mulher que aparecesse nas arquibancadas era literalmente cercada por torcedores aos gritos de "Tira! Tira", como se a opção de fazer um striptease naquele cimento frio tivesse algo de atrativo. O fato de estar acompanhada pouca diferença fazia, já que os dois cantos que se sucediam eram sempre os mesmos: “Sócio! Sócio!” ou então “Ei, ei, essa aí eu já peguei” (na verdade é uma versão mais pesada, mas vocês supõem qual seja). Nos anos 1980 e 1990 era assim, se você fosse mulher e quisesse ir ao estádio, o ideal era repensar essa ideia. Se insistisse, que fosse de boné e moletom. Quanto menos soubessem que você era mulher, melhor.

Ficou para trás um bom punhado de anos e hoje em dia a presença feminina nas arquibancadas não é mais algo incomum. O machismo, no entanto, continua lá, intacto, certo de que não será derrotado. Pergunte a qualquer mulher que frequenta o Beira-Rio, a Arena ou qualquer outro estádio e você vai ver que os relatos de desrespeito e assédio se amontoam. É normalizado. Para o agressor, “é só uma brincadeira”. Afinal de contas, não vai dar em nada. E, de fato, nunca dá, né?

Toda e qualquer questão de gênero, quando entra no ambiente do futebol, é vista com olho torto. Hoje, depois de muita luta, finalmente os gritos racistas começaram a ser punidos. Se a mesma punição se estender aos gritos homofóbicos, não sai mais jogo no Brasil. Sério, não sobra um.
Então, se você for ligando os pontos, não fica difícil entender que há uma rede de suporte machista no futebol que defenderá o status quo até não poder mais. Nem que para isso seja preciso defender (ou se calar) atletas em casos de acusação de estupro. Afinal de contas, Daniel Alves é apenas o caso mais recente – e com mais provas, ao que tudo indica. Antes dele já vieram muitos outros. Cuca, Mancini, Robinho, Neymar, Cristiano Ronaldo e tantos outros Em comum em todos esses casos, o questionamento se a vítima “não estava fazendo isso para aparecer/ganhar dinheiro”. Há outra semelhança em todos os exemplos citados acima: nenhum foi para a cadeia. Pois é.


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