Futebol, o ópio dos nababos

Futebol, o ópio dos nababos

O futebol, amigos, está se distanciando do povo. Está virando artigo de luxo, o ópio dos nababos.

Incidente aconteceu no finalzinho do primeiro tempo da partida de Copa do Mundo

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“O futebol é o ópio do povo”. Eis aqui uma frase recheada de preconceito. Foi amplamente dita no Brasil no período que antecedeu a Copa do Mundo de 1970. Qualquer cidadão fechado com a Seleção Brasileira, que buscava o tricampeonato mundial, era visto de revesgueio pela intelectualidade. Torcer pela Canarinho significava apoiar os militares, estar alienado das questõs politicas. Em menor escala, o fenômeno de repetiu agora, na Copa de 2022.

Teriam perguntado para Bernard Shaw o que ele achava da multidão. Resposta: "Gosto ou desgosto de quem tem uma cara só”. Temos que definir povo. Não uma definição retirada do dicionário. Quando ou penso em povo, penso em povo. Não se se me fiz entender. Vamos lá. 

Vai muito tempo o povo se embriagava de satisfação nas coreias dos estádios onde pingava uma moeda e podria ver seus ídolos. Lá, o valor do ingresso cabia todinho no bolso de um assalariado. O povo também podia assistir aos treinos. Lembro do meu tempo de repórter onde o torcedor mais humilde esperava os jogadores fora do estádio para uma conversa.

Depois, vieram as tais das arenas, com assentos confortáveis. Com o conforto, veio também a conta. Os ingressos dispararam. Vieram também as insossas coletivas. Nada mais maçante do que as coletivas dos jogadores. É um mais do mesmo tedioso, enfadonho, uma ladainha constrangedora.

Vou cometer aqui um exagero: minha impressão é de que os clubes querem o povo bem longe. Explico: agora estão fechando até treinos. Sim amigos, tem até jogo treino fechado para a imprensa e para o povo.

Obviamente, quando precisam do povo, abrem os portões. Como agora na contratação de Suárez. Cobraram ingresso, mas baratinho, simbólico. 
E as transmissões! Se o amigo não estiver com a guaiaca forrada de dinheiro então fica sem o tal do pay per view. Sim, tem que pagar para ver. Os jogos em canal aberto são raros como o cometa Halley. Há a gloriosa e significante opção do radinho de pilha. Nada mais democrático e barato do que o radinho de pilha. Mas prestem atenção neste veterano colunista: ainda irão taxar as transmissões por rádio.

O futebol, amigos, está se distanciando do povo. Está virando artigo de luxo, o ópio dos nababos.

 


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