Neymar hollywoodiano. Só Pelé é divino

Neymar hollywoodiano. Só Pelé é divino

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As pessoas ouvem aquilo que querem ouvir e enxergam aquilo que querem enxergar. Está aqui uma verdade verdadeira, escancarada. Não se trata de defender Neymar, já condenado e pisoteado. Antes, de restabelecer fatos. Tentarei, sabedor de que serei mandado aos quintos dos infernos.
Há um braço interrompendo a trajetória de Neymar na área contra a Costa Rica? Sim. Tente dizer isto numa mesa de bar. Soa como a defesa de um criminoso. O retruque mais educado é de que o atacante atirou-se feito um Tom Cruise em Missão Impossível.
Timidamente, quase num sussurro, me atrevo a perguntar se não são claras as imagens mostrando Neymar levando um pisão covarde do mexicano Layun. Não! A cena espalhafatosa sugere a simulação de um dublê de ator hollywoodiano.
Eis que recorro outra vez ao genial Nelson Rodrigues.
“Agora, oficializa-se a mentalidade segundo a qual não há futebol por aqui. Somos ótimos em peteca, bola de gude, cuspe à distância, menos de bola. Mas não foi só, amigos, não foi só. Em dado momento, um dos meus companheiros de canto toma a palavra e declara o seguinte: — na Copa do Mundo, Pelé foi muito bem-tratado, não sofreu nenhuma violência.
Vejam vocês e pasmem: — Pelé tratado, na Inglaterra, a pires de leite como uma gata de luxo. Portanto, o videoteipe é um vigarista; idem o cinema; idem a crônica mundial. A imagem mostra o crioulo ceifado, exterminado por trás. Cai, na primeira agressão; levanta-se, para ser derrubado outra vez. Tudo pelas costas. E vem um colega e afirma: — “Não houve nada disso. É mentira do videoteipe, do cinema, das fotografias e do próprio olho humano.”
Volto a Neymar. Primeiro aconteceu o pênalti e, posteriormente, aquela cena teatral. Que se marque o pênalti e que se faça com Neymar o que se quiser. Já o pisão criminoso é cristalino e a cena teatral é subjetiva. Ninguém pode avaliar o tamanho da dor que o jogador sentiu. Que de ponha o autor no olho a rua e que se faça com Neymar o que se quiser. Mas que não se neguem os fatos.
Transformamos, e aqui me incluo, um ser humano em filho de Zeus. Neymar é Neymar. Só Pelé é divino.

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