O Brasil do caviar e o do osso

O Brasil do caviar e o do osso

Há anos escrevo sobre os dois Brasis. Há um Brasil nababo, que se alimenta de ostras e filé mignon e ataca de Dom Pérignon e caviar e um Brasil que entra na fila osso.

Hiltor Mombach

publicidade

Há anos escrevo sobre os dois Brasis. Há um Brasil nababo, que se alimenta de ostras e filé mignon e ataca de Dom Pérignon e caviar e um Brasil que entra na fila osso.

É deslavada mentira que o mercado regula os salários dos jogadores. A verdade verdadeira é que os clubes se endividam até o pescoço porque contam com o beneplácito governamental que elabora programas de financiamento e refinanciamento das dívidas a perder de vista. É cúmplice dos desmandos.

Se o amigo acompanha o noticiário deve estar percebendo que as pedidas salariais ultrapassam o R$ 1 milhão. Vai muito tempo escrevi uma coluna que segue atualíssima.

“ Nelson Rodrigues trata de Chacrinha em uma das suas crônicas. Lá pelas tantas, escreve: “Passo finalmente ao Chacrinha. Disse eu, no início da presente confissão, que a sua barriga é uma paisagem. Mas o que me importa, mais do que essa plenitude do ventre, é o ordenado do Chacrinha. Já disse e aqui repito: seu ordenado deflagra, no momento, toda uma indignação nacional. Oitenta milhões por mês.”

Flor de obsessivo, venho registrando meu espanto diante dos salários pagos aos jogadores. Chumbado a uma dívida de R$ 1 bilhão, o Corinthians tentou contratar Cristiano Ronaldo, que ganhará R$ 1,1 bilhão no Al Nassr. A simples pretensão de bancar o famoso jogador é um disparate.

Havia um programa na antiga TV Tupi que levava o nome de "o céu é o limite". Neste país onde o assalariado vai ao açougue comprar osso, não há limite para a desavergonhada escalada salarial. Tudo com a cumplicidade do governo, que há décadas socorre os clubes pedalando as dívidas fiscais em intermináveis anos.

No arremate, afirmo que em breve qualquer perna de pau ganhará meio milhão de reais por mês.

O Flamengo pretende seguir como bambambã. Repatriou Gerson. Obviamente o jogador veio ganhando mais do que na Europa. Para não ficar atrás, o Corinthians tentou bancar Cristiano Ronaldo. Para voltar a ser competitivo, o Grêmio trouxe Luis Suárez. O Palmeiras gasta os tubos para ficar em igualdade com o Flamengo.

A disputa já não se restringem aos jogadores de categoria indiscutível. Os mais ou menos nunca ganharam tanto. Não vai meio ano ouvi de um dirigente do Grêmio que o clube não pagaria mais do que R$ 300 mil por mês para os novos reforços, todos de qualidade duvidosa. Falou como se R$ 300 mil fosse uma balinha que se dá de troco.”

Já o futebol amigos, o futebol que se vê em campo, vem sofrendo séria desinflação. Cada vez mais há menos jogadores extraclasse. Em campo, vemos um futebol pobre. Este sim imita o Brasil.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895