O sepultamento da Pátria de Chuteiras

O sepultamento da Pátria de Chuteiras

Não temos mais um Garrincha, um Pelé, um Zagalo nem um Amarildo e, agora, a CBF nos joga na cara que não temos um mísero treinador competente para comandar os canarinhos

Ancelotti é o favorito para assumir o cargo na Seleção Brasileira

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Começo copiando trecho de uma coluna de Nelson Rodrigues para o Jornal dos Sports em 20/6/1962.
“Os europeus podiam, sim, copiar, tanto quanto possível, o nosso futebol. Mais não podiam imitar o inimitável, ou seja: — o homem brasileiro. 
Garrincha é, por excelência, o incopiável. Pode-se imitar um europeu, porque eles se parecem, como soldadinhos de chumbo. Mas quem pode assemelhar-se a um Pelé? Ou a um Mané? Ou a um Zagalo? 
Ou a um Amarildo, o Possesso? 
Para ter a agilidade, a imaginação, a molecagem, o gênio de brasileiro o tcheco não pode ser tcheco, precisa ser um brasileiro nato.
O que se faz, na Europa, é uma imitação de vida. Ao passo que nós “vivemos” de verdade, e repito: — nós vivemos a vida, em todas as suas possibilidades consequências. 
Numa simples jogada, nós pomos uma carga de vontade, de caráter, de personalidade, de invenção que o europeu sequer compreende. 
Eu diria ainda que nós também “vivemos” o futebol, ao passo que o inglês, ou o tcheco, o russo apenas o joga.
Há um abismo entre a seca objetividade europeia e a nossa imaginação, o nosso fervor, a nossa tensão dionísica.”
Não temos mais um Garrincha, um Pelé, um Zagalo nem um Amarildo. 
Cometendo um exagero diria que nem temos um campeonato genuinamente nacional. Até os quero-queros da esburacada Paraíso sabem que o Brasileiro é disputado por sobras. 
Os bons jogadores se dividem brilhando entre vários países da Europa.Ficamos órfãos de craques lá se vão décadas. 
Neymar nunca foi, não é e jamais será um craque. 
Não amarraria a chuteira de um Pelé. 
Aliás, a palavra craque vem sendo aviltada de forma despudorada. 
Hoje, qualquer cabeça de bagre é alçado à esta condição.
Não temos mais um Garrincha, um Pelé, um Zagalo nem um Amarildo e, agora, a CBF nos joga na cara que não temos um mísero treinador competente para comandar os canarinhos. O Brasil precisa de um Carlo Ancelotti para voltar a ser o Brasil. 
É o declínio definitivo, o sepultamento da “Pátria de Chuteiras”.


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