Renuncie, Gaciba

Renuncie, Gaciba

Carlos Corrêa

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Carlos Corrêa / Interino

Nos primórdios dos anos 1990, quando se vislumbrava a popularização da Internet, a novidade era saudada com entusiasmo. Se previa que, acima de tudo, a plataforma iria democratizar a comunicação e enfim todos teriam voz. Foi o início de um sonho em que deu tudo errado, como o ódio e as teorias da conspiração que povoam as redes sociais hoje em dia podem comprovar. Mas talvez o problema fosse a nossa expectativa. Afinal, expectativa é um negócio complicado mesmo. Da mesma forma, talvez tenhamos nos iludido com a entrada da tecnologia para auxiliar a arbitragem no futebol. O VAR chegaria para acabar com as todas as jogadas duvidosas e a única crítica que se avizinhava era que ele acabaria com as discussões de boteco. Ah, quem dera o único problema hoje fosse a mesa do bar. 
Mas a tecnologia, diga-se de passagem, é a menor culpada aqui, mas sim quem a opera. O VAR, acima de tudo, passava uma imagem de transparência. E transparência é tudo que mais faz falta no atual cenário da arbitragem do futebol brasileiro. Neste sentido, a rodada desse domingo foi um fiasco por onde olharmos. Mas não é de hoje. Erros vão seguir acontecendo, é do jogo. A arbitragem brasileira é fraca, mas sinceramente nem sei se dá para se cobrar tanto de algo que, a grosso modo, ainda é um tanto quanto amador. Nenhum ou quase nenhum árbitro brasileiro é apenas árbitro. Todos têm uma segunda atividade. A arbitragem deveria ser profissionalizada, mas essa é uma outra discussão. 
Mas voltando, como dizia, erros vão acontecer. O problema é de comando. É visível que não há nenhum critério e não é por acaso que toda semana algum clube reclama de um pênalti marcado contra si que, pouco antes, não foi marcado a favor em um lance semelhante. Vai da cabeça de cada árbitro. A ausência de transparência nos áudios do VAR é outro problema constante. Não consigo imaginar uma justificativa razoável para que eles não sejam revelados após cada partida, ao menos em lances polêmicos. A incapacidade do VAR no lance do gol do Inter ontem escancara o momento da Comissão de Arbitragem. É inexplicável que, em uma partida decisiva na ponta de cima e de baixo na tabela, não houvesse uma verificação prévia. Ah, o sol atrapalhou. E só foram ver na hora? É péssimo para o Vasco e péssimo para o Inter, que sem culpa alguma, se vê em meio a desconfianças infundadas. Por mais que o presidente Alessandro Barcellos acredite que o lance seja claro (pessoalmente também acho que Dourado estava em posição legal), a opinião dele (e a minha) pouco contam. Da mesma forma, foi inexplicável que o VAR não tenha sido capaz de analisar se a bola saiu ou não no gol do Sport no Beira-Rio (por mais que Lomba devesse seguir no lance). No Brasil se erra sem o VAR e se erra com o VAR, como fica claro no pênalti para o Vasco, onde não houve falta alguma de Cuesta.
Por tudo isso, se o comando da Comissão da Arbitragem, que já era contestado, agora se vê criticado por todos os lados, a solução parece uma só. Ser criticado por todos os clubes não é prova de imparcialidade, mas de que o trabalho não vem sendo bem feito. Já houve tempo suficiente para que a Comissão mudasse padrões. Nada foi feito. Talvez a solução passe por uma mudança de comando. 
Ou talvez seja a hora de Leonardo Gaciba renunciar.


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