Sempre foi assim nesta pátria de chuteiras

Sempre foi assim nesta pátria de chuteiras

Não vejo nenhum clube disposto a lutar pela preservação de um Vavá, de um Pelé, de um Didi, de um Zito, de um Nilton Santos

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Um estudo do CIES – Centro Internacional de Estudos Esportivos – publicado recentemente registrou aquilo que quase todos sabiam: o Brasil é foi o maior exportador de jogadores, de pé de obra, na temporada de 2019.
Com 1.600 jogadores em atividade nas principais divisões do futebol mundial, o Brasil fica muito à frente do segundo colocado, a França, que teve 1.027 atletas contabilizados.
Ainda de acordo com a publicação, 186 países têm pelo menos um jogador exportado para uma liga estrangeira, sendo que Brasil, França e Argentina somam quase um quarto do total de estrangeiros no futebol (22,5%).
Por aqui, os dirigentes quase sempre comemoram a venda de jogadores pois isto virou a salvação da lavoura financeira. Alguém já disse que o verdadeiro Brasileiro da Série A é jogado no exterior. Lá estão os melhores jogadores.
O problema (ou solução para os clubes) não é atual. Vejam este trecho de um artigo escrito por Nelson Rodrigues no livro “A Pátria de Chuteiras”.
“Neste momento, o mundo todo está de olho no fabuloso escrete brasileiro. A toda hora e em toda a parte, há quem chegue e rosne ao nosso ouvido: — “Ofereceram tanto por fulano, tanto por Sicrano, tanto por Beltrano!” São os grandes clubes de fora, da Espanha, da Itália, da França, de não sei onde que acenam os seus milhões para os campeões do mundo. Mazzola já foi pescado. E há ofertas nababescas para Pelé, Vavá, Didi, Garrincha, etc. etc.”
Não vai muito a Sports Value fez um levantamento sobre o valor que os clubes arrecadaram entre 2003 a 2019 com a venda de jogadores.
O São Paulo apareceu em primeiro lugar. Segundo a Sport Value o clube paulista faturou em “valor nominal: R$ 1,1 bilhão e em valor corrigido pela inflação R$ 1,7 bilhão. O Inter entrou depois. Em valor nominal, faturou R$ 962 milhões e em valor corrigido R$ 1,5 bilhão.
Publiquei aqui mesmo na semana passada que, apenas na gestão de Romildo Bolzan Júnior, o Grêmio já faturou brutos mais de R$ 500 milhões com a venda de jogadores. Dias atrás o clube teve a chance de vender mais um, Pepê. Não foi vendido porque o Grêmio havia feito caixa com a negociação de Cebolinha para o futebol de Portugal.
Este trecho de Nelson Rodrigues em “A Pátria de Chuteiras” cabe todinho nos dias atuais.
“E observa-se, então, o seguinte: — os clubes dos campeões, que deviam estar alarmados, não estão alarmados coisa nenhuma. Pelo contrário: — do lábio pende-lhes a baba elástica e bovina da cobiça. Não vejo nenhum clube disposto a lutar pela preservação de um Vavá, de um Pelé, de um Didi, de um Zito, de um Nilton Santos. Todos estão com água na boca e aflitos para embolsar os milhões dos passes. Ninguém se lembra de uma verdade tão transparente e tão óbvia: — os campeões do mundo deviam ser incompráveis.”


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