Vacina, a outra

Vacina, a outra

Os vermelhos confessam sua confiança, quase certeza, de que o Grêmio não será rebaixado. Já os azuis confessam a convicção do rebaixamento.

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Nelson Rodrigues abre assim uma das suas crônicas: "Ninguém confessa virtudes e repito: — a simples confissão de virtudes não interessa nem ao padre, nem ao psicanalista e nem ao médium".

No caso particular desta coluna, são outras confissões. Vejam colorados e gremistas. Os vermelhos confessam sua confiança, quase certeza, de que o Grêmio não será rebaixado. Já os azuis confessam a convicção do rebaixamento.

Volto a Nelson Rodrigues: "O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo”.

Vermelhos e azuis se falsificam. Talvez seja uma verdade exagerada e o termo inapropriado. Ambos mascaram o verdadeiro sentimento. As últimas gerações encontraram um termo para definir tal enganação: vacinação. 

Caso o Grêmio não caia, os colorados dirão num gemido apertado: viu, eu não disse! Caso caia, os gremistas cometerão a mesma sentença: viu, eu não disse!
Encerro com Nelson Rodrigues: "O patético de nossa época é que o passado se insinua no presente e repito: a toda hora e em toda parte, a vida injeta o passado no presente”.
Foi, é e sempre será assim. Inter e Grêmio vivem e continuam crescendo à sombra não apenas das conquistas de um e de outro, mas também das suas desgraças


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