Virei secador!

Virei secador!

Confesso aqui meu pecado: neste momento, só a desgraça alheia provoca deleite. Por alheio entende-se todos os times exceto os gaúchos

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Nelson Rodrigues abre assim uma das suas crônicas: “Ninguém confessa virtudes e repito: a simples confissão de virtudes não interessa nem ao padre, nem ao psicanalista e nem ao médium, depois da morte.” Padeço de três males incuráveis: bairrismo, coitadismo e inveja.
Ando melancólico e nostálgico. Estamos fora de tudo no que se refere ao futebol: Libertadores, Sul-Americana, Copa do Brasil e fora da briga pelo título do Brasileiro. Ah que saudade dos tempos em que Inter e Grêmio eram protagonistas!
Diante deste quadro, amigos, virei secador. Confesso aqui meu pecado: neste momento, só a desgraça alheia provoca deleite. Por alheio entende-se todos os times exceto os gaúchos.
Fui tomado por uma euforia contagiante quando Borja fez 1 a 0 diante do Flamengo. O queridinho da CBF e da Globo, o clube que debocha dos quase 600 mil mortos pela pandemia, estava perdendo. Quando do apito final vibrei feito um juvenil.
Há coisas que o cartão de crédito paga. A cara de Renato ao final do jogo é impagável. O Flamengo deixou 20 pontos pelo caminho até aqui. Nove diante dos gaúchos. Perdeu para Juventude, Grêmio e Inter. Perdeu para Grêmio e Inter no Maracanã. Do Inter, tomou uma sacola. 
Espero retomar minha identidade de gaúcho em 2022. Tornei-me um secador. É um tanto trágico. Porém, e aqui vai outra confissão, secar também alívia a alma. Não vamos levar o Brasileiro. Mas podemos ter melado o título deles.


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