Últimas do Laçador, cidadão palomense

Laçador é um personagem clássico de Palomas.

Está sempre pilchado.

Por qualquer coisa, exclama: "Deixa comigo, que eu laço".

Laçador é racionalista, iluminista, ruralista e universalista.

Passa as tardes em pé num bolicho na entrada de Palomas.

Ancora o telejornal da Rede Baita Sol.

Ficou célebre a sua chamada quando do primeiro tsunami: "Ninguém de bombacha entre as vítimas".

É o mesmo telejornal no qual Guma, o oráculo de Palomas, apresenta a previsão do tempo.

O método de Guma é radical: só prevê o previsível. Mete a cabeça pela janela, dá uma espiada e crava o tempo que faz.

O que fará, não se constrange em dizer, a Deus pertence.

Em todo caso, confia nas suas juntas e  no seu reumatismo para prever chuva.

No último domingo, Laçador, num só editorial da sua autoria, defendeu a saída do Tinga do Vermelhão, a reforma do Código Florestal, o fim da Comissão da Verdade ou a punição para os dois lados, especialmente o "lado deles", e a Xuxa.

– O Código Florestal agora ficou bom, tchê. Protege os pequenos rios.

– É os grandes, Laçador?

– Esses não têm em Palomas.

– Os ecologistas estão fulos com esse código, Laçador.

– Ecologista pra mim tem mais é que plantar batata.

– Por que tu és contra a Comissão da Verdade?

– Porque sou fã do general Médici. Aquele era macho!

– É verdade que tu choraste com o depoimento da Xuxa na tevê?

– Chorar, não chorei, que palomense não chora. Mas me emocionei com aquela parte do Michael Jackson. Teria sido o casamento perfeito. Duas malas juntas. Daria uma mala de garupa lindaça, um de cada lado no lombo do cavalo.

– E a resenha do Augusto Nunes na revista Oia louvando a biografia do Getúlio dizendo que a esfinge, enfim, foi decifrada.

– Gostei. Esse é dos nossos. Mais reacionário que poncho de baeta encarnada.

– Mas, afinal, a Dilma veta ou não veta o Código Florestal?

– Não sei, tchê. Previsão é com o Guma e com a Zora Yonara.

– Zora Yonara, Laçador! Faz mais de 30 anos que ela não trabalha mais na Rede Baita Sol.

– Pra mim, ela, o Médici e pomada minâncora são insubstituíveis.

– Tu és politicamente incorreto, hein!

– Comigo é no laço. Ecologista, eu pialo.

– E o Tinga?

– Saiu na hora certa.

– Por quê?

– Já andava trotando que nem cavalo velho.