A abolição na imprensa e no imaginário

A abolição na imprensa e no imaginário

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Editora Civilização Brasileira

Textos de capa

Raízes do conservadorismo brasileiro: a abolição na imprensa e no imaginário social

Juremir Machado da Silva

 

Textos de orelha

Em Raízes do conservadorismo brasileiro, Juremir Machado da Silva aponta caminhos capazes de elucidar por que o Brasil é um país em débito com a própria história. Partindo da análise de discursos políticos e jornalísticos do início do século XIX, o autor identifica fundamentos conservadores que permearam o contexto da assinatura da Lei Áurea e sobre os quais foi erigida, um ano e meio depois, a República brasileira.

Naquela segunda-feira, 14 de maio de 1888, um dia depois do fim da escravidão, o que (e de que forma) os jornais noticiaram? E o efeito da abolição, foi sentido imediatamente ou ecos nefastos são ouvidos ainda hoje? Ou ainda, por que o ano de 1888 não tem a mesma repercussão na história quanto os anos de 1808 – que marca a fuga da família real para o Brasil –, 1822 – data da proclamação da independência –, ou mesmo 1889, que indica o fim do regime monárquico? São estas algumas das constrangedoras perguntas que este livro tenta responder.

Ciente de que a liberdade não foi uma concessão, mas uma árdua conquista das pessoas negras, o autor demonstra como a estrutura do capitalismo comercial escravista se traduziu – e ressoa ainda hoje – numa intrincada legislação, elaborada para atender a determinados interesses, e num imaginário cultural e ideológico, edificado para justificar a manutenção de privilégios – mesmo que isso implicasse, na época, a desumanização e a coisificação de pessoas.

Com seu texto ágil, Juremir Machado da Silva desvela as origens do conservadorismo e a história da busca pela igualdade social no Brasil. A fina ironia do autor, se não torna o tema mais leve, funciona como um mecanismo que ajuda o leitor a suportar o espanto de ver a gênese da hipocrisia que ainda hoje sustenta relações de dominação entre classes e raças.

Este é um livro essencial não apenas para pessoas interessadas em história, sociologia e análise do discurso, mas também para aquelas que desejam viver em um país melhor, em que a escravidão tenha de fato se extinguido para todos.

 

Sobre o autor

JUREMIR MACHADO DA SILVA (Santana do Livramento/RS, 1962) é escritor, tradutor, jornalista e professor universitário. Graduado em história e em jornalismo pela PUCRS, tem mestrado em antropologia pela UFRGS e doutorado em sociologia pela Université Paris V – Sorbonne. Publicou mais de trinta livros, entre ficção, ensaio e tradução. Foi condecorado Chevalier de l’Ordre des Palmes Académiques, pelo governo francês, em 2008, e venceu o 2º Prêmio Brasília de Literatura com a obra Jango: a vida e a morte no exílio, em 2014. Este é seu primeiro livro pela Civilização Brasileira.

 

Trecho

“O que se vê percorrendo os subterrâneos do passado brasileiro? O que se encontra nos desvãos da história da escravatura no Brasil? Nada mais do que as raízes daquilo que o país continua a ser. Se hoje a Justiça ainda é acusada de privilegiar os brancos ricos, ontem ela servia abertamente aos interesses dos brancos proprietários de escravos. Se atualmente a polícia é suspeita de discriminar os negros, ontem ela era o capitão do mato caçando escravos fugitivos e cumprindo o papel de garantir pela força a ordem da escravidão, a permanência em cativeiro, sob sequestro permanente, de seres humanos traficados da África ou de alguma província do Brasil para outras. Se hoje a mídia é vista como reprodutora da ideologia conservadora, que legitima a desigualdade social, ontem a imprensa era veículo de disseminação de teorias racistas e de ideologias de dominação. O parlamento foi, durante muito tempo, a caixa de ressonância sem estática dos interesses das elites escravistas, em que liberais e conservadores distinguiam-se quase tanto quanto gêmeos univitelinos.”

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