A cidade em todas as suas formas

A cidade em todas as suas formas

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Pelas cidades

 

Falamos de países, de Estados e de nações. Mas vivemos mesmo é nas cidades. Elas são nossas casas, nossas salas, nossas cozinhas, nossos quartos e nossos mundos, nossos berços e nossas sepulturas. O que sabemos sobre elas? Que imaginários elas produzem? Como nos marcam com seus lugares? O italiano Fabio La Roca, morador de Paris, professor em Montpellier, decidiu nos conduzir em viagens pelo universo urbano num belo livro intitulado “A cidade em todas as suas formas” (Sulina). O passeio é completo: arquitetura, mobiliário, atmosfera, grafites, pichações, tecnologia, representações no cinema, tecnópolis, digitalidade, mídias, narrativas, projeções, encontros.

O mundo rural está quase deserto. Há lugarejos abandonados pela Europa inteira. Bilhões de seres humanos ocupam cidades de todos os tamanhos. Nas cidades, trabalhamos, vivemos, amamos, jogamos e vemos o tempo passar ansiosa e dolorosamente. Como sentimos a transformação das cidades nas quais nos amontoamos? Como nos adaptamos a essas novas construções, cidade 2.0, 3.0, 4.0? A realidade das cidades é feita de conexões, afetos, memórias, simbolismos, imaginários e vivências. Deixamos rastros nas cidades, que se inscrevem em nós como tatuagens.

Na apresentação, Michel Maffesoli, viajante incansável, dá pistas: “Para compreendermos o sentimento de pertencimento que ocorre no irreal/real, nós não podemos nos basear em nossos conceitos habituais do Contrato Social, tornados fundamentos no século XVIII. É necessário, essencialmente, e às vezes sob risco, encontrar metáforas, transportar imagens, fazer uso de palavras, novas e antigas, que sejam pertinentes aos tempos atuais. Isso para chamar a atenção para a passagem do contrato racional ao pacto emocional! A ‘solicitação visual’, o fato de ‘tocar com o olhar’, até mesmo os grafites são a esse respeito alavancas metodológicas de importância crucial”.

Fabio La Rocca dá o tom aos caminhantes: “O cotidiano, como nos ensina Michel de Certeau, se inventa com mil maneiras de caçar. Como resultado, lugares particulares e um certo número de componentes urbanos se tornam traços distintivos da experiência vivida onde cada um estabelece uma relação espacial e espiritual singular. Os efeitos do meio geográfico e territorial das cidades têm, nesse caso, uma influência específica no comportamento afetivo dos indivíduos. O espaço é vivido, assim, em comum, favorecendo a formação de uma identificação coletiva nas diversas práticas espaciais e constituindo a essência primária para se mostrar e se apresentar na cena social”.

“A cidade em todas as suas formas” será leitura obrigatória para quem se interessa por urbanismo de um ponto de vista sociológico, antropológico, cultural, artístico, estético. Estamos dentro do livro como dentro das malhas urbanas. A parte sobre como grandes filmes retratam as cidades é deliciosa. As cidades são personagens, protagonistas em muitas obras-primas do cinema. O professor Massimo Di Felice, da USP, afirma que a inseparável câmera de Fabio La Rocca é “meio de transporte” para “atravessar paisagens desconhecidas”.

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