A essência da coronelidade na estética global
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Fiquei deprimido.
Pensava que a essência de Gabriela e de Ramiro Bastos estavam no trabalho dos atores da versão original.
Pensava que Gabriela era o fruto do talento de Jorge Amado mais o talento de Sônia Braga.
Descobri que um remake acaba com a ilusão do original.
Desvenda o truque.
Não há diferença radical entre Juliana Paes e Sônia Braga.
Quer dizer que Juliana tem o mesmo talento.
Não necessariamente.
Quer dizer que o essencial é a caracterização.
É um truque.
A coronelidade de Ramiro Bastos não está no talento do ator, mas na sua barriga.
Quando a câmera foca o barrigão de Antonio Fagundes, todo o coronelismo está ali.
A gabrielidade de Gabriela está na cabeleira negra e no petrume solar da pele da personagem.
Qualquer um, com uma boa barriga, seria o coronel.
Qualquer uma, com alguma sensualidade, e a pelo enegrecida artificialmente dá uma Gabriela.
Perdi minhas ilusões.
Por outro lado, poderia me encantar com o poder da televisão.
Ela faz o que quer.
O ramake revela o truque. É ruim. Mas refaz o truque.
A única coisa saudável é não ver o original e o remake.
Algo se salva e eleva: a obra de Jorge Amado.
Vou esbofetear os intelectuais afetados: muito melhor do que Guimarães Rosa.
Muito mais verdadeiro.
Mais verdadeiro por conseguir captar melhor os clichês.
Acabo de fazer uma descoberta: a ecceidade, como diria um escolástico, está na barriga.
Essa é a individualidade do coronel.