A Fifa, a máfia e a PF

A Fifa, a máfia e a PF

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Padrão Fifa

A máfia tinha.

A PF queria.

Era uma vez uma história de mansões, iates e sapos.

O que acho do escândalo da Fifa? Um escândalo. Por que ainda não tinha escrito sobre o assunto? Para não repetir o espanto que assola o mundo. Espanto? A palavra é inadequada. Como se espantar com o que todo mundo pressentia, percebia e até sabia? Quando eu era jovem repórter esportivo, acreditava em teorias da conspiração. Tinha certeza de que resultados podiam ser manipulados e árbitros comprados. Um dos meus editores zombava de mim com um altissonante “capaz!” Em 2005, a CBF calou a boca de todos os que ridicularizavam os teóricos da conspiração anulando jogos a partir da confissão de um árbitro de que havia vendido resultados.

O óbvio tornou-se óbvio.

A Fifa é uma máfia. Quem duvida disso? A CBF segue o padrão Fifa. Uma instituição que proíbe seus membros de recorrer à justiça para resolver os seus conflitos coloca-se fora da lei por estatuto. Continuo acreditando em teorias da conspiração. Tenho certeza de que houve conspiração para a Copa do Mundo de 2014. Muita cascalho deve ter rolado por baixo das obras feitas para receber o mundial no Brasil. Ficamos de joelhos diante de figurões que agora correm risco de passar de hotéis cinco estrelas para celas individuais. Tudo me choca. Até o que pode ter sido apenas pressa. Quando vejo os corredores de ônibus de Porto Alegre sendo refeitos, não deixo de pensar que foi tudo planejado. As obras ficaram malfeitas e precisaram ser reabertas e refeitas? Ou foram concluídas às pressas para a Copa do Mundo sabendo-se que depois seria preciso recomeçar tudo? Foi só um jogo de cena?

Tapeação para receber as visitas?

José Maria Marin, o homem que ajudou a colocar o jornalista Vladimir Herzog na cadeia, onde foi “suicidado” pela ditadura, fez o papel de anfitrião, como presidente da CBF, ao lado da presidente Dilma Rousseff, torturada pelos militares que mataram Vlado, na Copa do Mundo? O filho de Herzog comparou essa situação de mau gosto com a da Alemanha: o que se diria se os alemães tivessem autorizado um nazista a organizar a Copa do Mundo de 2006? Marin, o ladrão de medalha, está agora hospedado numa prisão suíça, longe do padrão Fifa, buscando alguma doença para sair. Deverá ser extraditado para os Estados Unidos. O FBI fez o que a Polícia Federal nunca encontrou tempo para realizar: botou as mãos em cima de um larápio escolado. O Brasil é padrão Fifa. Acossado em Miami, Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, fugiu para casa. Aqui, sente-se em segurança.

Quando leremos a saga da Copa do Mundo do Brasil em páginas policiais? Quando saberemos as razões profundas da construção de estádios inúteis em cidades onde o futebol é quase uma miragem? Quando conheceremos as razões financeiras que nos levaram a ter doze dispendiosas sedes quando até a Fifa se contentava com oito? Quando mergulharemos nos elos entre Fifa, CBF, governo brasileiro e empreiteiras na construção de obras cujos preços superaram a goleada da Alemanha sobre o Brasil em dilatação inesperada? Houve tempo em que a palavra máfia assustava o mundo. Hoje, a palavra Fifa faz isso.

O sapo deu as caras.

Até a PF resolveu indiciar Marin.

O conto de fadas entrou pelo cano.

Do esgoto.

Fedeu.

 

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