A grande pizza do TSE

A grande pizza do TSE

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Era a crônica de uma pizza anunciada. O TSE absolveu a chapa Dilma-Temer e manteve o presidente investigado por corrupção no poder. Tudo sob o silêncio das panelas que antes batiam pela moral.

A cronologia dos fatos é implacável. Derrotado na eleição de 2014, Aécio Neves recorreu ao TSE. O agora afastado e cada vez mais próximo da prisão Aécio Neves, então um paladino da ética, diz que entrou com a petição só "pra encher o saco do PT". A iniciativa foi útil para desestabilizar o governo de Dilma. As acusações agora arquivadas serviram para ampliar o clima negativo que levou ao impeachment de 2016.

O ministro Gilmar Mendes impediu que a ação fosse arquivada por falta de provas. Lutou para que a investigação fosse aprofundada. Inflou o objeto para atingir Dilma Rousseff. Nesta semana, durante o julgamento que já não lhe interessava, disse que não era para cassar  ninguém, mas só pelo efeito pedagógico. Qual? Mostrar que a justiça pode ser uma farsa? Desmoralizar o TSE? Revelar a hipocrisia dos brasileiros, que antes rugiam contra a corrupção e agora silenciam e dormem de cabeça tapada?

O TSE foi aparelhado por Temer sob os olhos de todos. Em fevereiro, atrasou o andamento do processo para dar tempo ao presidente de indicar e empossar dois novos juízes, Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira. Os dois, que deveriam ter se declarado impedidos, lamberam a mão do benfeitor. Um deles foi advogado da chapa que julgou. O jogo de compadres espantou o mundo, mas não o Brasil.

Gilmar Mendes, que passou os últimos meses de conchavo com Temer, não tinha isenção para julgar.

Nem queria. Estava ali para absolver politicamente. Aqueles que antes pediam julgamento técnico, passaram a falar em responsabilidade, estabilidade e economia. Clamaram por exceção.

Um estranho fundamento jurídico diz que se a prova cabal vem depois de começado o processo, deve ser desconsiderada, salvo se for do interesse e da conveniência dos juízes. Dilma foi condenada em 2016.

Temer foi absolvido em 2017.

Há contradições para todos. Os petistas que defenderam a inocência de Dilma e agora criticam a absolvição da chapa pelo TSE admitem que a dupla cometeu abuso de poder econômico?

As provas tornaram-se acachapantes, mas não havia interesse em condenar.

A mídia que denunciava aparelhamento do STF pelo PT ignorou esse termo em relação ao TSE.

A classe média que bradava contra Dilma não deu um pio contra Temer.

Como em 1964, em 2016 a classe média não foi às ruas contra a corrupção, mas contra o "comunismo".

O mercado só quer as suas reformas.

O TSE aceitou chafurdar na lama.

Lembro-me de juristas dizendo que Gilmar Mendes era brilhante e que partidário eram só Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, os "petistas" do STF. A situação hoje é obscena: Herman Benjamin, o relator da matéria no TSE, saiu do julgamento como um grande juiz. Gilmar saiu como um político sem escrúpulos, um sujeito capaz de cair nas maiores  contradições por compadrio e ideologia.

O MBL, o Vem pra rua e os outros grupos de direita contra a corrupção desapareceram.

Nunca passaram de fantasias mobilizadas.

O TSE entra para a nossa história com uma farsa, a consagração da pós-verdade: nega a prova para absolver. Afinal, o criminoso ainda precisa terminar de entregar o crime encomendado.

No Senado, o aparelhamento, modelo PMDB de atuar, avança: o conselho de ética foi tomado pelos impolutos Romero Jucá, Eduardo Braga e Jader Barbalho para salvar Aécio Neves. A egrégia comissão já disse que é contra o afastamento do certamente injustiçado propineiro tucano.

Na semana que  vai começar o Procurador-Geral da República deve denunciar Michel Temer como chefe de quadrilha. O Brasil chamará a atenção do mundo pela sua originalidade: ser governado, na leitura do Ministério Público, por um gângster. As panelas continuarão silenciosas. Não é um "comunista".

Os patéticos escudeiros de Temer sustentam que só há um crime: a gravação de Joesley.

O TSE lavou o capital do presidente da República

Saiu uma pizza tamanha família.

Amanhã a Avenida Paulista e o Parcão, em Porto Alegre, não terão ninguém de camiseta da CBF.

Deve ser por causa da derrota para a Argentina.

Isto não é uma defesa de Dilma e do PT.

É um ataque à hipocrisia brasileira e aos corruptos de estimação de cada partido.

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