A hora do povo nas ruas e nas decisões
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De repente, não mais que de repente, Felipão ficou bem-humorado e abriu os treinos da seleção brasileira, Neymar começou a jogar bem, o STF ficou rápido, o PMDB expulsou um deputado corrupto condenado à prisão, os senadores trabalharam durante um jogo do Brasil contra o Uruguai e Renan Calheiros passou a ter boa ideias, embora ainda não tenha conseguido justificar os salários dos seus garçons. Soou o alarme! O Brasil está louco?
A presidente Dilma teve a grande inspiração: ouvir o povo.
Na pressa, propôs um plebiscito para convocar uma constituinte exclusiva. Era novidade em dose dupla. A oposição, os conservadores e os “especialistas” chiaram:
– Constituinte exclusiva não pode.
– Por que não?
– É tecnicamente inadequado.
– E plebiscito?
– Melhor um referendo.
– Mesmo?
– Pensando bem, nem referendo nem plebiscito.
– Uma consulta popular?
– Juridicamente é complicado.
Só resta ao povo, na rua, cantar:
– Deixa de conversa mole, Luzia.
A turma dos camarotes está tentando frear os movimentos e impedir a consulta ao povo. Resolveram tirar da cartola todos os seus “saberes” para trancar a rua.
– Povo neles!
A reforma política não pode ser feita pelo Congresso por uma razão acaciana: o Congresso não é confiável e não quis fazê-la. Se a fizer, ela sairá torta e ineficaz.
– Povo neles!
Os doutos querem provar que a massa é burra. O argumento deles é que o povo não pode decidir sobre temas complexos. Melhor deixar na mão deles. A rua vai gritar:
– Chega de conversa fiada!
Com dois meses de campanha na televisão, todos os pontos polêmicos podem ser perfeitamente compreendidos por qualquer pessoa. Aí cada um decide. O Congresso Nacional recebe o resultado, propõe-se uma emenda constitucional e consagra-se a vontade do povo. Acabou.
– Povo neles!
Uma pergunta para a consultar popular, que pode ir além da reforma política e explorar outros assuntos:
– Deve-se manter ou derrubar o fator previdenciário?
A turma dos camarotes não quer ser representante da população. Deseja mesmo é melar a consulta ao povo. Teme que o povo quebre o país. Acha que só ela tem esse direito. O conservadorismo sempre encontra maneiras sábias para sair pela porta da frente e voltar pela janela. Há deputado preocupado com o custo de uma consulta popular. De repente, tornou-se importante economizar. Não se pensou nisso em relação à Copa do Mundo. Tem muito gente correndo o risco de ouvir bordão:
– Cala a boca, Magda!
Ou, certamente, um urro vindo das ruas:
– Povo neles!