A mídia amava Pedro Parente

A mídia amava Pedro Parente

publicidade

Opiniões, opiniões

 

      Passei o final de semana fazendo o dever de casa. Sou um rapaz muito compenetrado. Li dezenas de artigos de especialistas sobre a crise brasileira. Dediquei várias horas ao exame dos textos das estrelas brasileiras dos jornalões de Rio de Janeiro e São Paulo. Admiro a autossuficiência, ia dizer arrogância, desses seres que jamais duvidam, acertam sempre, analisam abstraindo contextos ou séries históricas e definem inexoravelmente o certo e o errado. Aprendi o seguinte: Michel Temer errou ao ceder às pressões dos caminhoneiros, afundou-se ao demitir o eficaz Pedro Parente e cancelou uma política econômica correta para se entregar a um novo populismo.

Trocando em miúdos, estava tudo certo. Os caminhoneiros é que erraram. Compreendi de tão sábias leituras que o governo não deveria ter cedido nem dado um passo sequer atrás na sua política para o preço do Diesel. O país continuaria parado, com estradas bloqueadas, crise de abastecimento nos supermercados, caos social, hospitais paralisados e tudo o mais que o Brasil experimentou em poucos dias. Mas isso, conforme a logica dos artigos dos doutos comentaristas, manteria o Brasil em sintonia com os melhores indicadores internacionais e continuaria fazendo de Michel Temer um presidente afundado em acusações de corrupção, mas com êxitos na recuperação econômica do país. Os caminhoneiros atrapalharam tudo. Acabaram com a narrativa.

Um especialista chegou a escrever que “importar petróleo é bom”. Para quem mesmo? Atraso é querer ser autossuficiente. Sempre achei que poderia ser melhor ter petróleo para consumo próprio e ainda para vender. Raciocino como um padeiro. Não sei o que há contra os padeiros. O nosso mal teria sido a descoberta do pré-sal. As lágrimas pela saída de Pedro Parente inundaram as redações dos principais veículos cariocas e paulistas. Que interessa se o preço do combustível se tornou abusivo? Importante era a recuperação da Petrobras e os lucros para seus acionistas. O melhor meme que já vi foi a nova assinatura para o minúsculo presidente da República: MiShell Temer.

Outro iluminado tirou a conclusão suspeita de sempre: é preciso privatizar a Petrobras já. Um luminar rotulou a demissão de Parente de grave. A comentarista chefe do apoio ao governo Temer afogou-se em soluços contra o que denominou de “desmonte da política econômica”. Era só chamar esses comentaristas para que explicassem aos grevistas os acertos governamentais. Racionais, pragmáticos, sem ideologia, eles convenceriam rapidamente os caminheiros a votar em Henrique Meirelles e a erguer uma estátua para Pedro Parente. E o preço do diesel? Nada mais do que a vontade do mercado internacional. Um dado de realidade.

Quanto mais leio os especialistas, mais fico sabendo que Pedro Parente nunca errou: foi perfeito na crise do apagão elétrico, durante o governo FHC, e mais perfeito ainda no comando da Petrobras. Fez o que a ciência da gestão determina. Seguiu a boa cartilha. Caiu como um incompreendido. Tão incompreendido quanto o seu chefe MiShell Temer.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895