A obscenidade da bolsa magistratura
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O BNDES pega dinheiro caro no mercado e repassa mais barato para amigos.
Outro escândalo é o das ajudas para quem não precisa. Existe uma falha na autonomia dos poderes. O judiciário julga todo mundo. Mas quem julga o judiciário? O próprio judiciário. Ninguém é suficientemente altivo, ainda mais não sendo eleito, para julgar desinteressadamente em causa própria. A cúpula do judiciário parasita a nação. Sempre se dá ganho de causa.
Embolsa tudo o que pode. Se é legal, os magistrados querem. Quem julga a legalidade? Eles mesmos.
Querem tudo. Retroativamente.
O piso do magistério não é pago. O judiciário dorme tranquilo.
A plebe faz greve. O judiciário manda voltar ao trabalho.
Mas o judiciário, que ganha muito bem, concede-se auxílio-moradia, alimentação e transporte. No popular, é obsceno.
Pornográfico.
No Rio de Janeiro, o desembargador Siro Darlan protestou contra o auxílio-educação. Foi afastado da função que exercia no TJ-RJ.
A nova imoralidade do judiciário saiu no Diário da Justiça: “DETERMINA A ESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA O PAGAMENTO
DE AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO À MAGISTRATURA, BEM ASSIMO PARECER DA ASSESSORIA ESPECIAL ADMINISTRATIVA
APROVADO POR ESTA PRESIDÊNCIA COM CARÁTER NORMATIVO (EXPEDIENTE Nº 139-13/000439-3)”. Em português?
Em português, língua que o judiciário pouco pratica para não perder poder e realçar sua legitimação pelo jargão, significa que “FICA INSTITUÍDO O AUXÍLIO- ALIMENTAÇÃO AOS MAGISTRADOS EM ATIVIDADE NO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, CUJOS EFEITOS RETROAGEM À DATA DA PUBLICAÇÃO DA RESOLUÇÃO Nº 133/2011 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (24 DE JUNHO DE 2011)”. A mamata é retroativa. Por quê? Por “SIMETRIA CONSTITUCIONAL ENTRE MEMBROS DA MAGISTRATURA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO, COMUNICANDO-SE AS VANTAGENS ENTRE AS REFERIDAS CARREIRAS”.
Custo da brincadeira? R$ 33.600,00 para cada beneficiado, além dos R$ 700,00 que vão receber como auxílio-transporte. No total, como são 803 magistrados ativos, a conta fechará em R$ 1.612.800,00 de retroativo e R$ 5.621.100,00 mensais.
A cúpula do magistratura está descontente com seus salários? Por que não vai às ruas protestar? Por que não convence a opinião pública? Por que não batalha na mídia?
Auxílio-alimentação para quem ganha trinta mil por mês é indecente.
A economia gaúcha vai mal? Deputados e secretários de governo ganham aumento.
É preciso cortar direitos trabalhistas com um ajuste fiscal? Deputados gaúchos criam para eles uma aposentadoria especial inexistente para os seus eleitores.
Municipários vão receber a inflação parcelada?
Os vereadores de Porto Alegre vão recebê-la de uma vez só.
A explicação do judiciário gaúcho é cândida: não podemos ter menos direitos que a magistratura nacional. Isonomia é sinônimo de privilégio. Não se corrige o erro. É mais fácil adotá-lo como medida de correção.
A explicação dos deputados gaúchos é ardilosa: seguimos a Câmara de Deputados.
A explicação geral é canalha: o impacto nos cofres públicos não é o mesmo.
Tradução: poucos podem ganhar muito que não se vai à falência.
A maioria que se rale.
Por que não tem manifestação nas ruas contra Bolsa-Magistrado, contra aposentadoria especial de deeputado, contra aumento privilegiado de vereadores e secretários de Estado? Será que os manifestantes de março e abril são beneficiados?
Entre nós, auxílio-alimentação para magistrado é uma tapa na cara.
Por causa de coisas assim os franceses tomaram a Bastilha em 1789.
O Brasil está refém das suas elites, que só pensam em termos de legalidade, autojulgada, e jamais em moralidade, razoabilidade e respeito à maioria. Ferrou. Faz tempo que a vaca foi para o brejo de toga.
Regras trabalhistas devem ser as mesmas para o serviço público e para empresas privadas.
Tudo igual.
Nenhum privilégio é moral.