A popularidade de Jango em 1964 segundo o IBOPE

A popularidade de Jango em 1964 segundo o IBOPE

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A ideologia cega.

Impede até de fazer cálculos.

Elimina nuanças e impede a compreensão de a+b+c.

Atrapalha tanto que torna impossível decodificar pesquisas e diferenciar umas das outras.

O historiador Muniz Bandeira escreve: "O governo João Goulart, quando caiu, contava com 76% de opinião pública a seu favor".

Dá a fonte: pesquisa do IBOPE revelada pelo professor Antonio Lavareda, da Universidade Federal de Pernambuco.

Indica onde encontrar os dados: IstoÉ Senhor, 12 de dezembro de 1990.

Aconselha que se veja também o Correio Braziliense de 11 de setembro de 1989.

Detalhe: segundo pesquisa do IBOPE feita entre junho e julho de 1963, Jango era considerado:

Ótimo e bom: 35%

Regular: 41%

Apenas 19% o consideravam péssimo oito meses antes do golpe.

Em sete de dez capitais, Jango era visto favoravelmente.

Em Porto Alegre, ele contava com 61% de apoio (ótimo ou bom).

Em  Curitiba, 43% o achavam ótimo ou bom.

Na Guanabra, onde mandava o corvo Lacerda, ele caía para 22% de ótimo ou bom.

Agora vem o mais interessante. Em pesquisa realizada pelo IBOPE entre 9 e 26 de março de 1964, cinco dias antes do golpe, 47% dos entrevistados (contra 37% em julho de 1963)  declararam "que votariam em Goulart se ele pudesse se candidatar à reeleição".

O percentual dos que não votariam nele caíra de 50% para 46%.

Conclusão de Bandeira: "Em outras palavras, a popularidade de Goulart, em vez de cair, estava crescendo".

O historiador Jorge Ferreira cita outra pesquisa, explorada por alguns, por esperteza ou ignorância, como única e global.

O IBOPE, no final de março de 1964, fez pesquisa em três cidades de São Paulo (a capital, Araraquara e Avaí).

A fonte é a Folha de S. Paulo de 9 de março de 2003.

Nela, 15% achavam o governo de Jango ótimo; 30%, bom;  24%, regular.

Fazendo as contas para os que se atrapalham com esses números endiabrados, mesmos nessas três cidades paulistas, Jango, dias antes do golpe, tinha 45% de ótimo e bom. E 69% de ótimo, bom e regular.

Vale lembrar que quem acha um governo regular não pede a sua deposição pela força.

Apenas 16% dos paulistas entrevistados achavam Jango péssimo.

Em pesquisa do IBOPE, também realizada no final de março, segundo Jorge Ferreira, 59% dos entrevistados eram favoráveis às medidas anunciadas por Jango no comício da Central do Brasil. Eram as reformas de base.

A direita inventou uma narrativa para justificar o golpe, mas essa mitologia não encontra amparo na História.

Ainda não apareceu, que os principais historiadores do país conheçam e citem, alguma pesquisa do IBOPE dizendo que 76% dos brasileiros, ou, enfim, dos entrevistados, consideravam o governo de João Goulart ruim ou péssimo.

Que chato!

O pessoal procura, procura, mas a História desmente.

René Armand Dreifuss, no espetacular 1964: a conquista do Estado, explicar que a doutrinação foi feita pelo rádio, pelos jornais, com filmes e com um exército de jornalistas submetidos à lavagem cerebral: "O IPES também produziu uma série de filmes com um duplo apelo às Forças Armadas e ao público em geral, difundindo e legitimando o papel da "construção nacional" dos militares". Pelo jeito, o efeito ainda não se desfez totalmente. Antes do golpe, o IPES foi objetio de uma CPI.

Depois, foi declarado de "utilidade pública".

Assim se produzem os imaginários.

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