A queda dos dinossauros

A queda dos dinossauros

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Tsunami eleitoral

 

      Quase todos erraram. A renovação foi grande. Especialistas garantiam que ela seria minúscula: 38% na bancada gaúcha para a Câmara Federal, 54% na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 85% no Senado. A ciência política pode ser a opinião de cada nas regras da ABNT. As pesquisas fracassaram como sempre. Davam José Fogaça em primeiro lugar para o Senado. Chegou em quinto. Luís Carlos Heinze passou como um bólido. Em Minas Gerais, tinham Dilma Rousseff na ponta. Não se elegeu. Caciques do MDB como Eunício Oliveira, Romero Jucá e Edison Lobão foram desembarcados do Senado pelos eleitores dos seus estados.

Foi a eleição do discurso forte e da fala na lata. Quem ficou na conversa da moderação se deu mal. Marina Silva não encolheu. Desapareceu. Pagou mico. Cabo Daciolo, com seu papo reto, engoliu Henrique Meirelles, Marina, Álvaro Dias e Guilherme Boulos. Tempo de televisão e grandes alianças espúrias não deram resultado. Quem plantou por todo o país contra a corrupção e a favor do impeachment de Dilma Rousseff, colheu: Kim Kataguiri, Janaína Paschoal, Mamãe Falei, Marcel Van Hatten, Fabio Ostermann, Alexandre Frota. O PSDB sai esfacelado. O PT respira com o segundo turno de Fernando Haddad e com a maior bancada na Câmara. O PSL entrou pequeno e sai enorme. Grandes ficaram médios; pequenos viraram gigantes; franco-atiradores acertaram o alvo.

Foi a eleição das redes sociais, da pegada, da atitude, do discurso frontal, do ódio escancarado e da polarização. O Brasil nunca esteve tão dividido: Nordeste X resto do país. A extrema-direita é a grande vitoriosa em todos os níveis. Desconhecidos conquistaram lugar no segundo turno de grandes Estados como o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Quem conhecia Wilson Witzel ou Romeu Zema? Os três maiores cabos eleitorais do primeiro turno foram o antipetismo, o combate à corrupção e a indignação contra a violência no cotidiano. Pau puro.

No Rio Grande do Sul, não fosse a divisão no campo da direita, José Ivo Sartori ou Eduardo Leite poderiam ter vencido no primeiro turno. Dividida e acossada a esquerda não decolou e ficou a ver aviões. Heinze ganhou a batalha contra Ana Amélia Lemos. Ao saltar fora da aliança com o insosso Geraldo Alckmin e aderir a Bolsonaro, candidato do seu coração, deu um cavalo de pau e elegeu-se senador com um pé nas costas. As urnas berraram. O dinheiro ajudou a reeleger muita gente, mas deixou alguns a pé. Líderes da tropa de choque de Michel Temer, como Darcísio Perondi, ficaram a pintar navios. Pagaram o preço de apostar no cavalo do pior.

Metáfora de futebol: na partida de ida, Bolsonaro goleou. Só um milagre pode levar Haddad a virar no jogo da volta. O eleitorado de João Amoedo vai inteiro para o capitão. Os tucanos, em maioria. FHC falou em votar no petista.  Já recuou. Vai ficar neutro, que é forma de estar com Bolsonaro. Quantos tucanos graduados declararão voto em favor da volta do lulismo? A direita saiu do armário. Assumiu seu lado mais intenso. O gaúcho Eduardo Leite já no domingo abriu o jogo em favor do candidato do PSL para barrar o PT. Na segunda, recuou por causas das atitudes reacionárias do capitão em matéria comportamental. Nesta eleição, a economia é coadjuvante. Ideologia, questões morais, repúdio ao chamado politicamente correto e segurança contam mais. Para a esquerda, será a luta entre civilização e barbárie. Para a direita, o combate entre valores e anarquia, capitalismo e comunismo, honestidade e corrupção. Vai ser jogo duro. Nunca se mentirá tanto quanto nos próximos dias.

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