Acharam e prenderam o Queiroz

Acharam e prenderam o Queiroz

Cadê a mulher dele?

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      Confesso a minha surpresa: acharam o Queiroz. Tão rápido assim. Mais: prenderam o Queiroz. Admito que estou perplexo. Quanta celeridade. Só faz dois anos que o rolo começou. Nesse meio tempo, Queiroz, o faz-tudo de Flávio Bolsonaro, segurança, articulador político, gestor de pessoal e pagador de boletos, deu entrevistas, passou por cirurgia, falou novamente a jornalistas, mentiu bastante, tentou modificar o passado, declarou-se vendedor de carros, foi elogiado pelo ex-chefe na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro como “cara correto e trabalhador”, morou em São Paulo, mandou um depoimento escrito para o Ministério Público, gravou videozinho e instalou-se tranquilamente em imóvel do advogado do senador Flávio e do seu pai, o presidente intempestivo Jair Bolsonaro.

      Acharam e prenderam o Queiroz. Já! Cheguei a pensar que não havia pressa. Enquanto Queiroz – acusado de organizar a rachadinha do 01 na Alerj, o achaque ao dinheiro dos funcionários do deputado Flavinho – experimentava a monotonia paulista, o advogado que o protegia entrou com uma dúzia de recursos na justiça para barrar as investigações contra o seu cliente engalanado com o título de senador. Até Sara Winter foi presa antes do Queiroz. Pouco mais e ficava pronta a vacina contra o coronavírus antes de botarem a mão em cima do capanga mais invisível do país. Lembra aquela história da carta roubada que todos procuravam sem sucesso e estava em cima da lareira diante dos olhos e do nariz de todos. Depois que Queiroz se mandou, quase prenderam o Coaf, o organismo que denunciou as suas contas atípicas, dois ministros da Saúde foram demitidos, Sérgio Moro saiu do governo, virou inimigo de Bolsonaro e passou de herói a traidor no imaginário do bolsonarismo raiz. Mas acharam e prenderam o Queiroz. É fantástico!

      Um marco na história das operações policiais brasileiras. Um pouco mais e as más línguas vermelhas começariam a insinuar que não havia vontade de pegá-lo, que estavam fazendo corpo mole e que se estava blindando a família real. A velocidade da localização do procurado e da sua prisão sepultam essas fake news. Nunca na história deste país se chegou tão rapidamente a um suspeito conhecido de todos. Até ministros militares depuseram antes dele em outro rolo, alertados que poderiam ser conduzidos “sob vara” se faltassem ao encontro. Só Queiroz permanecia desaparecido e tranquilo no seu cafofo, sítio e escritório de advocacia. Deve ter aproveitado o tempo para organizar a sua versão dos fatos. Como estava na casa do advogado do ex-chefe e parceiro, pode certamente combinar com os interessados uma estratégia comum de defesa. Talvez até tenha feito uma lista de carros comprados e vendidos com bons lucros quando recolhia contribuições “voluntárias” e entusiasmadas de colegas no legislativo estadual do Rio de Janeiro.

      O Brasil me espanta. Nunca pensei que se chegasse a pegar o famoso Queiroz em tão pouco tempo. O caso nem pode prescrever. Desse jeito o crime vai deixar de compensar no país. Por que não o prenderam quando estava disponível na capital paulista? Mistério. Será que Queiroz aceitará fazer uma delação premiada? Pode ser um bom negócio para ele. Poderia começar explicando aquele cheque que foi parar na conta da primeira-dama. Só para saciar nossa curiosidade. Parece que o cometa daquele tamanho previsto por Queiroz finalmente deu as caras.

O Ministério Público descobriu que Queiroz pagava em dinheiro vivo contas de Flávio Bolsonaro, que nada sacava das suas próprias contas. Por outro lado, Queiroz recebeu depósitos do miliciano capitão Adriano, que tinha a mãe e a mulher empregadas no gabinete do deputado estadual 01. O que isso significa?

Agora falando em abstrato, sem remeter a casos concretos ou a pré-julgamentos, faço a pergunta que não cala: quem faz comprovadamente rachadinha é ladrão?

Ah, tem outra pergunta: cadê a mulher do Queiroz?


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