Agosto, 50 anos da Legalidade

Agosto, 50 anos da Legalidade

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Ah, agosto



Talvez nunca tenha existido agosto como aquele de 1961, quando Brizola, de metralhadora a tiracolo e microfone ao alcance da mão, dobrou os milicos golpistas e levou Jango ao poder. Ah, sim, houve outro agosto ainda mais impressionante, o de 1954, quando Getúlio, com um tiro no coração, saiu da história para entrar no mito e freou o golpismo do Corvo Lacerda, que foi se esconder no vão de uma escada, no meio das vassouras, na Base Aérea do Galeão, antro dos golpistas ligados à UDN. Há meses assim, em que tudo parece acontecer. Os portugueses chegaram ao Brasil em abril. A independência aconteceu em setembro, a República, em novembro, a abolição da escravatura, em maio. A revolução de 1930, em outubro.

Agosto, mês de desgosto, é o mês emblemático do Brasil depois de 1950. Setembro é um mês terrível no mundo nesse mesmo período. Em 1970, houve o “setembro negro”. Morreram entre cinco e dez mil palestinos no confronto entre o exército jordaniano e a OLP. Ninguém esquece um setembro mais recente, há dez anos, o setembro de 2011, o do 11 de setembro que abalou o planeta com os atentados terroristas em Nova York. Diante do horror de setembro, agosto parece pequeno, romântico, provinciano. Mas é uma impressão, uma distorção, uma questão de escala. O agosto de 1954 foi uma derrota para o Brasil. Os episódios de agosto de 1961 terminaram em vitória no começo de setembro. Uma vitória maculada pela solução parlamentarista, que tirou poderes de Jango. Mesmo assim, não foi um empate. No século XX, antes de 1964, o Rio Grande do Sul, como se diz, brilhou no céu da pátria.

Depois, forneceu ditadores, que jamais tiveram as oscilações e a sensibilidade social de Getúlio, que conheceu seu anos de tirano. Qual o nosso pior mês? Do ponto de vista dos nossos índios, certamente abril. É também o mês do golpe de 1964, recuado para 31 de março para tentar enganar os bobos. Estamos em agosto, 50 anos depois do agosto da Legalidade, tentando completar as reformas de Jango, interrompidas pela ditadura, cujos torturadores ainda não foram punidos. Temos uma mulher no poder, quase gaúcha, mostrando que é de faca na bota. A limpeza que Dilma está fazendo nos setores atolados na corrupção é de tirar o chapéu. É incrível como a corrupção brasileira consegue ser suprapartidária. Uau!

Exatamente como em agosto de 1954 e em agosto de 1961, assim como em março de 1964, a direita vocifera contra a corrupção. Lembra os discurso histéricos de Carlos Lacerda e do próprio Jânio Quadros. Sempre que há um governo de esquerda promovendo “reformas de base”, a direita agarra-se a um único recurso: denunciar a corrupção. Só que ela historicamente usa os mesmos estratagemas. Atualmente, é o roto falando do descosido. Dilma está parecendo o Brizola de 1961, sem metralhadora e o mais longe possível dos microfones. É pura atitude. Já enterrou todas as previsões machistas sobre o seu governo. Onde estão os que diziam que ela seria uma mulherzinha a mando de Lula? Estão desesperados tentando aumentar o tamanho da corrupção para se manter vivos.

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