Ainda se fala do baixo nível da campanha

Ainda se fala do baixo nível da campanha

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Algumas mentiras se tornam rapidamente verdades, especialmente quando se apresentam como verdades contra supostas mentiras destinadas a manchar reputações. Durante e depois da corrida eleitoral de 2014, marcada pelo duro enfrentamento, tornou-se comum dizer que foi uma campanha feitas de mentiras e de golpes baixos. Sempre há mentiras e golpes baixos em campanhas. Mas quais foram as mentiras que estão incomodando tanto os adversários batidos do PT? Fernando Henrique Cardoso, entre tantos outros luminares da política, insurgiu-se, em artigo publicado na mídia do centro do país, contra a prática de “desconstrução” dos oponentes que teria atingido Marina Silva e Aécio Neves. O mínimo que se pode dizer é que Aécio devolveu na mesma moeda. Foi sempre pau a pau, taca a taco, olho no olho.

Não haverá algo escondido nessa queixa contra o suposto baixo nível? Terá havido uma quebra de uma espécie de confortável acordo de cavalheiros coorporativo entre os políticos: eu não falo dos teus podres e tu não falas dos meus? Por que não falar desses podres? A sociedade precisa saber como se comportam na condição de cidadãos os candidatos ao governo de um Estado ou à presidência da República. Parece mais interessante para os políticos a tal da campanha de propostas, que é um novo nome inventado pelo marqueteiros para a velha promessa. Fica todo mundo bem. Dá para fazer promessas, quer dizer, propostas sem levantar a voz, sem atacar e sem mexer no passado comprometedor de alguém.

Um político não pode se eleger fazendo campanha contra o tabagismo e fumar escondido no banheiro.

Se for descoberto, esse podre pessoal deve ser exposto aos eleitores.

Desconfio dessa súbita indignação com a “desconstrução” do oponente. Uma campanha deve existir para isso mesmo: mostrar as contradições, as fragilidades e os furos dos candidatos. É assim em qualquer lugar do mundo. Aspecto pessoal é outra coisa. O eleitor não precisa ficar sabendo se o candidato gosta de transar em cima da mesa da cozinha ou se pagou um aborto para a namorada, salvo se pregar contra o aborto. Mas, se defende pesadas multas de trânsito e dirige falando ao celular, como é corriqueiro entre os que mais criticam a impunidade no país, isso deve ser mostrado no horário eleitoral.

Eu sou a favor de um certo “baixo nível” em campanha política. Quero saber todos os podres de todos os candidatos. Falo desses podres que podem informar sobre o caráter do indivíduo ou revelar contradições e hipocrisias. Nível “elevado” demais pode ser apenas sinal de que foi feito um pacto de não agressão. Parte das reclamações que andam acontecendo entram na conta do chamado choro de perdedor. De repente, aqueles que zombavam da desconfiança de Leonel Brizola em relação às urnas eletrônicas, visto como um dinossauro gaudério, passaram a duvidar da lisura da contagem dos votos.

Como dizem os debochados cariocas antes e depois do primeiro chopinho:

– Fala sério!

Tudo isso para dizer apenas que baixo nível foi o futebol apresentado pelo Inter contra o Grêmio.

Cresce o movimento pelo impeachment do Abel.

 

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