Amazônia ardente

Amazônia ardente

Bolsonaro pode levar o Brasil a perder a floresta?

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A Amazônia é brasileira. Jair Bolsonaro pode nos levar a perdê-la?

Para continuar verde-amarela, precisa ser mantida de pé. O governo Jair Bolsonaro ainda não compreendeu algo trivial: a Amazônia deve ser conservada como um santuário de índios, árvores, bichos e águas. Quanto mais intocável, mais valiosa. Explorar minérios e madeira é mau negócio. Até parte do agronegócio já compreendeu essa verdade. O mundo preciso pagar uma taxa ao Brasil pela preservação da floresta. Nada de pequenas doações. Dinheiro robusto.

      Cada árvore, cada animal, cada igarapé, tudo, enfim, é tesouro. A Amazônia deve ser um museu vivo da natureza. Alguma exploração sustentável é possível. Mas o essencial é que o mundo ajude a financiar, com lucro para o Brasil, essa diversidade natural. Cada cultura tem um valor em si extraordinário. Provocar as entranhas da terra com mineração é crime contra a humanidade e contra a natureza. Destruir rios à procura de ouro exige punição severa. Nada mais inútil do que ouro. Nada mais útil do que uma ave na plenitude do seu voo, uma árvore secular na imponência da sua altura, um curso de água cristalina na desenvoltura das suas curvas, uma cultura indígena na complexidade dos seus ritos, da sua língua, da sua permanência intocada no tempo.

      Se a Amazônia é pulmão do mundo, como afirma o presidente francês Emmanuel Macron, devemos cobrar por esse ar compartilhado com o planeta. Deixemos de lado as querelas científicas. Fiquemos com a aparência. Sim, com a aparência, essa imensidão verde e azul que enche os olhos e emociona quem se vê como parte desse mistério natural gigantesco. Ver a Amazônia em chamas por causa de baixos apetites não apenas entristece, revela uma visão de mundo moderna no pior sentido dessa palavra: o culto do progresso a qualquer custo, a ideia de que se pode subjugar a natureza impunemente, a racionalidade econômica míope como princípio de organização sociocultural, o fundamentalismo lucrativo, xiitismo tacanho e pobre, como ideologia e horizonte.

      Se Nero pôs fogo em Roma, Jair Bolsonaro, com sua retórica extremista e sua indulgência em relação aos devastadores, põe fogo na Amazônia. Talvez seja a única maneira que encontrou de tentar entrar para a história como uma grande realização. Uma façanha o capitão já conseguiu: uniu boa parte do mundo contra ele. A sinalização do presidente até agora foi direta: queimem e desmatem que depois a gente vê. Ou ainda tem muito floresta, não se constranjam, avancem. A crítica à Europa funciona como um contrassenso: se eles desmataram as suas florestas, por que querem nos impedir de fazer o mesmo? Inauguramos uma triste e fuliginosa época, a da diplomacia da queimada e motosserra.


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